Taís Civitarese
Vovó completaria 90 anos na semana que vem. Faríamos uma festa, ela estaria bem velhinha, talvez em uma cadeira de rodas. Comeríamos doces em sua homenagem e certamente haveria sorvete, de que ela tanto gostava. Pensaríamos que poderia ser o seu último aniversário e não economizaríamos em fazer um monte de firulas para alegrá-la.
Vovó estaria contente e falaria com orgulho de seus filhos, netos e bisnetos. Sobretudo dos bisnetos. Olharia os quatro com amor e a sensação de uma boa obra.
Lembraríamos das mesmas histórias de sempre que marcaram sua vida, muitas gafes e coisas engraçadas. O “com quem será” seria com o Massu, taxista que se encantou por ela uma vez em uma viagem ao Chile.
Piada velha e interna, repetida à exaustão por todas nós para brincar com ela. Ela sempre recebia elogios por sua simpatia onde passava. Tinha um carisma que era só seu.
Cantaríamos pra ela. Eu beijaria suas bochechas com força e a apertaria bastante, como gostava de fazer.
É claro que no finalzinho, era iria chorar e dizer que, afinal, não tinha se saído tão mal assim. Tinha uma boa família, muito amor, boas pessoas a seu redor. Ao final, estaria cansada. Levaria um bom pedaço de bolo para casa, que recusaria por educação, mesmo a gente sabendo que jamais deixaria para trás. Assim, era ela. Um encanto. E ao imaginar tudo isso, a sinto comemorada.
Vovó foi uma mulher que passou por tudo o que as mulheres não deveriam passar. Ela se reergueu, foi feliz e deixou uma grande lição para todas nós, mulheres de sua família (e somos muitas!). Março me lembra ela (além de outras queridas) principalmente por isso, por sua vivência na pele feminina e pelas sementes que plantou em nós para vivermos de uma forma diferente do que ela viveu. Ela faria 90 anos. Ela ainda vive em mim, em mamãe, em minha irmã, em minhas tias e primas. E nas minhas sobrinhas. Que cada passo nosso honre o que ela passou e não deixe que a sua dor jamais se repita.
Que homenagem linda, Tatá! Estou ouvindo ela dizer lá do céu: Oh, querida!!!❤️
E faríamos coro de “oh, querida!”
Lindo, Tatazinha! ❤️