A gente combinou

Silvia Ribeiro

Tudo bem que a gente combinou que não seria namoro, e uma frase bem específica deixou um quê de arrogância no ar: “não crie expectativas sobre mim”.

Mas nos desejamos como namorados, nos beijamos como namorados, rimos como namorados, nos entregamos como namorados e até brigamos como namorados.

E, no decorrer do tempo, nos enamoramos de um sentimento que chegou de mansinho, trazendo consigo algumas sensações que saíam do script. Porém, tínhamos um contrato, éramos apenas amigos, talvez íntimos, mas éramos amigos.

E eu tinha um jeito de não me importar e de não querer nomear o que estava acontecendo, bastava apenas aquele sorriso largo me dando a certeza que era nos meus braços que você queria estar. E isso é muito mais do que um simples diploma de casal.

Até que, um dia, eu resolvi rever algumas coisas. Folheei umas páginas que a gente já havia escrito, remexi em algumas gavetas dentro de mim em busca de um álibi pra sustentar o que eu não conseguia cumprir e acabei descobrindo algo que parecia querer se camuflar e se rebelava por total falta de habilidade de se conter. Ali haviam muitas cores vivas, muitos sons eletrizantes, muitos olhares renascendo, muitos enredos tomando forma, muitas vontades cheias de agora e muitas asas em pleno voo.

E vi que tudo aquilo era amor.

Amor de gente, amor de amigos, amor de casal. Mas era amor.
E eu gostava disso.

Vamos dançar?
O suor escorria dentro do meu vestido bajulando as fantasias eu não conseguia esconder, e à cada palavra que você dizia ao meu ouvido a minha pele queimava, e o meu sorriso vibrava ao toque das suas mãos.
Até que o amor nos disse: vocês precisam sair daqui.
E saímos…

*

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