Taís Civitarese
O sapo tem veneno. O porco espinho tem espinho. O cão ladra e morde. O gato tem garras. O jacaré dá rabada. O cavalo, coice. A água viva queima. Até a rosa tem espinho. Nós temos as palavras. E precisamos usá-las.
Mais do que isso, não há como sobreviver sem defesa. Sem alguma coisa rígida que nos guarde. O líquido evapora. O marshmallow derrete. A nuvem fofa chove e desaparece inteira.
A natureza tem seus recursos. Tem seus mecanismos de proteção e resistência. De ataque, se for preciso. Se fomos condicionados a ser dóceis, seremos sim engolidos por alguém muito faminto por açúcar.
Precisa haver um caroço, uma pedra, um amargo. Algo que faça cuspir a bala. Que nos plante de volta no solo e nos enraize. E cresça. E floresça e gere frutos espinhosos por dentro. Que não sejam destruídos facilmente à menor mordida.
Nossa maior couraça são as palavras. Às vezes, o grito. A resistência. A barreira da negativa ancorada em nosso instinto de vida. O palácio dos poderes precisava ter defesa.
A paz é algo dinâmico que não é feito de música e poesia. A paz exige força, firmeza nos detalhes, gritos agudos e imposição de respeito.
Não existe idílio. O mar tem ondas altas, o caranguejo tem pinças, o papagaio bica, o macaco arremessa seus excrementos. Nada é feito de paz em si até que a encontre com muita luta. Nada sobrevive sem as pedras. Nada! Nem mesmo a flor mais perfumosa e digna. Nem mesmo a melhor das filosofias.