Daniela Piroli Cabral
danipiroli@hotmail.com
No último fim de semana tive uma forte crise de infecção urinária que me levou ao pronto-socorro. A prescrição, um potente antibiótico, entregou-me analgesia e restitui-me o bom humor.
No entanto, como efeito colateral uma forte reação alérgica permeada de urticária e vermelhidão por todo corpo e um inchaço na boca que me emprestou temporariamente os contornos labiais de Angelina Jolie. Como resultado, interrompi o tratamento e agora reflito sobre o acontecido.
Sem dúvida nenhuma estamos vivendo um momento histórico de fortes efeitos colaterais: os da cloroquina, os da ivermectina e os da azitromicina usadas indiscriminadamente pelos negacionistas por quase três anos de pandemia. Sem prescrições, sem recomendações, sem comprovações.
Tais efeitos colaterais massivos foram sentidos agora, no último dia 8 de janeiro: terrorismo, comportamento violento, cólera, fúria, irritabilidade, rebaixamento do juízo crítico, barbárie e porque não, diarréia (manifestada sem repugnância ou repulsa, à céu aberto, e minuciosamente documentada em tempo real pelas lentes despudoradas).
A verdade é que, nos últimos, o Brasil vem tomando os remédios errados para seus males. Os efeitos colaterais da falta de investimento em educação e cultura são a ignorância, o negacionismo e obscurantismo. Os efeitos colaterais da liberdade irrestrita de opinião são o abuso, o preconceito, a calúnia e a mentira. Os efeitos colaterais da impunidade são a destruição, a violência, a balbúrdia. Os efeitos colaterais das fakenews são as teorias conspiratórias. Da falta de liderança pacificadora, o desgoverno, a segregação, a guerra, a competição.
Os efeitos colaterais de “deus” são a intolerância, o ódio, a submissão e a falta de discernimento entre o que é crença e o que é fato. Os efeitos colaterais da “pátria” são a canalhice, a manutenção do status quo e o uso de símbolos e cores para dominar e impor verdades. Os efeitos colaterais da “família” são o moralismo, a exclusão, a desunião, a desumanização. A falta de empatia e da alteridade.
Que em 2023, o nosso Brasil possa a começar a se curar a partir de remédios mais adequados (em dosagem e posologia), ainda que amargos, mas com menos efeitos colaterais possíveis: amor, escuta, lucidez, civilidade, responsabilização, diálogo, alegria, políticas públicas, justiça social, educação, cultura, saúde, ciência, vacina, esperança e por que não oposição.