Taís Civitarese
Não vou mentir. Acordei em 2023 com muita esperança. Ver um ministério colorido, ver cachorro, ver criança. Tudo isso me mostra a real face do meu país. Tudo isso nos atrela a uma realidade mais real. E quando a vemos assim, atualizada e sem ilusões europeias, é possível nos conectarmos com ela, transformá-la e entendê-la.
No início desse ano saiu o livro do príncipe Harry. Não irei ler. Não há nada nesse momento que me interesse menos do que o príncipe Harry. Nesse momento, quero ler os autores do meu país. Quero ver o que fazem as pessoas que constroem o meu país. Quero, apesar das inúmeras mágoas, fazer algo para melhorar o meu país.
Um tempo muito sombrio acabou, com referências sombrias, ideias retrógradas. Um tempo que não reconhece e nem humaniza nenhum paciente meu. Eles são pretos, pobres e por vezes, homossexuais. Alguns, são transexuais também. Eu não quero viver em um país que não reconheça os meus pacientes.
Por muito tempo, quis ir viver na Europa. Talvez ainda queira um pouco. Porém, se houver uma vida melhor por aqui, se houver respeito, dignidade, inclusão, assistência social e responsabilidade, quererei com muito orgulho viver no meu país. A desigualdade extrema fere a alma e não deixa ninguém ser feliz. Pode até parecer que deixa, mas a verdade é que não.
Nada muda da noite para o dia. Exceto o tamanho do sapato de um filho. Ainda assim, acordei com esperança. Com fé. Com felicidade por ver pessoas a meu ver desqualificadas irem embora. Por ver cores, por ver diálogo, por destituir a arrogância e alguns grilhões do pensamento do lugar de poder.
Acordei querendo ver a mulher ser respeitada.
Querendo ver o pobre ser assistido.
Querendo que todos tenham oportunidades.
Acordei com essa esperança de ver um pensamento que considero mais justo ter a chance de realizar coisas. Observemos, esperemos.
Se puder ser assim, será bem bom.