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Não prometo

Nessa primeira semana do ano fiquei pensando sobre as promessas que fazemos, e cheguei a conclusão que algumas coisas definitivamente não deveriam ser prometidas.
Incluindo as básicas: vou fazer dieta, me matricular na academia, fazer um curso, mudar o visual, me tornar um ser humano melhor. Enfim, tudo aquilo que morre no primeiro raiar do ano novo sem ao menos ter tido a oportunidade de se eternizar.
Não prometo que vou remodelar o compasso nem frear os meus instintos, muito menos mudar a minha forma de dançar. Vou cuidar para que os meus dias tenham todos os ritmos, das dancinhas da moda até o bom e velho bolero de Gardel.
Não prometo um faz de contas de sentimentos. Preciso consolidar as minhas itinerâncias e me transformar numa estrada pra que as pessoas possam percorrer por um dia, ou por todos os “sempre”.
Não prometo me emudecer. Vou cantarolar por aí os meus desejos e todas as intenções que por ventura em algum momento se sentiram acanhadas dentro de mim até o último apito do trem.
Não prometo deixar de ser cordial. Estarei de comum acordo com as minhas emoções, e elas só responderão mediante a vontade do meu coração sem deixar brechas pra que o destino interfira.
Não prometo ser morna. Irei em busca de saciar as minhas doidices e deixar que os meus olhos brilhem diante do lúdico sem me roubar a razão nem enrijecer a minha trajetória.
Não prometo deixar de colecionar folhas em papéis em branco. Quero rascunhar histórias, mudar o destino, abusar do decote, desfilar um intrigante batom vermelho, desaparecer com personagens, criar heróis e heroínas, sublinhar os melhores momentos, e se necessário for rasgar algumas páginas.
Não prometo ser singular:
Sou a personificação do amor em forma bruta e todas as suas pluralidades. Aquele que resiste ao tempo, que não guarda bicho- papão debaixo da cama, que excita a alma, que não castra arrepios, e que sabe conversar com o tempo do lado de dentro da vidraça.
Sou a personificação do amor em trajes de gala. Aquele que conhece a virilidade do amanhecer, que se desnuda cotidianamente, que não se coloca em posição de inquilino, que arranca sorrisos, e que vive cada segundo como se fosse o último.
Mas, prometo.
Não deixarei de ser deliciosamente chata.
*
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