Um dia eu tive um sonho estranho. Nele, alguém sussurrava para mim: “o inferno ainda não começou”. Ao acordar, pensei em todas as implicações bíblicas que essa frase poderia indicar. O anjo caído, será que ele conseguiu recuperar a sua glória? Os grandes portões do inferno, que em sua entrada avisam “deixai toda esperança, ó vós que entrais” só serão abertos depois da segunda vinda de Cristo? E se houver uma segunda vinda, seremos pegos de surpresa ou teremos 30 anos para escolher as roupas para esse momento histórico? E por que eu? A quem interessa que eu saiba que o inferno ainda não começou?
Caminhando pela literatura, podemos ver diferentes entendimentos do que o inferno pode ser. Para Dante, é o “profundo fosso doloroso / que acolhe o eco de infinitos ais”, destacando que ouvir o sofrimento do outro é pior do que suportar o seu próprio. Para José Saramago, o inferno poderia ser suportável se não fosse o cheiro de tudo. Para PKD, se não fosse o frio, poderíamos passar toda a eternidade à mercê do sofrimento. O que me faz pensar que o inferno nada mais é do que humano. O corpo em todos os seus sentidos, a pele em todas as suas dores. O paraíso, por outro lado, é habitado por almas beatas de Beatriz. Não podemos sentir com o espírito, e é por isso que ele é o único que pode ser salvo e salvado. “Salve a sua alma!”.
O inferno ainda não começou porque ainda estamos aqui. Começará quando limites que não conhecemos e não sabemos onde começam e nem onde terminam forem quebrados. O corpo, diferente de como pensávamos, não é finito. É infinito assim como será a infinitude do nosso sofrimento. Eu não suportarei a lamúria, o cheiro de carne e muito menos o frio em brasa. O que devo fazer? Guardarei esse aviso de que “o inferno ainda não começou” na alma e, se tiver sorte, serei salva com ela.
Eduardo de Ávila Na última semana, voltando do velório da mãe de um amigo, percebi…
Victória Farias Capítulo 8 Os primeiros dias de missão foram de descoberta. Isac queria ver…
Silvia Ribeiro O céu parece menos azul, e as nuvens não desenham mais as fantasias…
Mário Sérgio No segundo ano de Escola Técnica, BH/1978, já estávamos “enturmados”, amizades consolidadas e…
Rosangela Maluf …para Faride Manjud Maluf Martins, minha mãe Na luta diária Ela batalha Conquista…
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Semana passada interrompi o texto no exato momento crítico em que após…