Fez muito calor durante o dia e agora, depois que o sol se escondeu, sopra uma brisa fraquinha que ajuda diminuir as altas temperaturas desta tarde.
É sexta feira.
Combinamos, algumas amigas e eu, de tomarmos uma cervejinha no “Confessionário” – barzinho de um grande amigo nosso. Teremos violão, cavaquinho, percussão e outro amigo que canta lindamente. Vou tomar um banho demorado, me arrumar um pouco, colocar uma roupa fresquinha e…rua!
O interfone toca.
Atendo e ouço do lado de lá que há uma entrega pra mim. Não comprei nada, não tenho nenhuma entrega programada, o que pode ser? Recoloco a bermuda, visto a camiseta e desço até a Portaria.
– Oi, moça. Você é do apto 202? Ele pergunta.
– Sou sim, respondo..
– Seu nome é Alice?
– Sim, eu digo.
– Preciso do número do seu documento de identidade, falô?
Dou o número. Ele sai da Portaria, e se dirige a uma moto, parada em frente o meu prédio. Vejo um bagageiro enorme, fora do comum para uma moto. De lá ele tira uma coisa que nunca vi igual. Vem se aproximando, e sorrindo pergunta se eu já vi um trem tão bonito.
Eu sorrio também e digo que não.
O entregador coloca no chão um arranjo de flores.
Antúrios. Uma das minhas flores preferidas.
Foi embora sem falar mais nada, mas me entregou em mãos uma verdadeira maravilha.
Nunca, até então, havia visto um arranjo tão maravilhoso: eram três vasos de antúrios, unidos em um volume só. Imensas folhas verdes davam o acabamento ao vaso. As flores de um colorido brilhante, tons de laranja, vermelho, uma coisa espetacular.
Voltei rapidamente pra casa, curiosa pra saber quem me havia enviado tamanha belezura.
Coloquei o arranjo sobre a mesa.
Impaciente e desastradamente (quase derrubei os antúrios), pus-me a procurar o cartão. Claro, claro que haveria um cartão. Óbvio, fosse de um fã, de parabéns-por-engano, de feliz final de semana, qualquer coisa que justificasse o envio dos antúrios.
Nada.
Separei, cuidadosamente, cada caule, olhando um por um. Todo cuidado ao verificar a possibilidade do cartão estar entre os raminhos, entre as folhinhas, na base dos vasos, nas folhas verdes, nas dobrinhas do papel.
Nada.
Ah, o selinho da floricultura, isto!
Coloquei sobre os vasos as imensas folhas de papel brilhante, num dourado seco, discreto, muito chique. Indescritível. As folhas além de lindas eram forradas por outra folha. Um papel de seda, ocre. O efeito era absurdamente lindo. E nas dobras de cada pedaço eu imaginei encontrar o selinho.
Claro! Toda floricultura coloca o seu selo sobre uma fita, uma pontinha do papel, uma dobrinha. E é natural que seja assim, é o Marketing! Mas nada encontrei.
Não sabia se continuava encantada com o presente ou se admitia uma imensa irritação por não saber do remetente. Quem poderia ter me enviado as flores? Alguém que me conhece bem, pois sabe o quanto gosto de antúrios. Mas por que não se identificou? Por que o mistério, o segredo? Nem um cartãozinho. Nada.
Ok. Vamos ao banho. Vamos ao Confessionário. Tomar umas cervejinhas. Contar o caso e ouvir as opiniões das amigas. Preparada para boas gargalhadas, lá vou eu.
Antes do banho resolvo fechar o computador. Vou até o escritório e diante do PC resolvo entrar rapidamente no Google – não me perguntem por que…
Fiquei sem saber o que falar.
Apenas ri.
Li novamente. Ri muito de novo.
Lá estava:
Significado de antúrio
O significado da flor representa confiança, hospitalidade, fortuna, iluminação, além de autoridade, luxo e imponência. Quando usada em casamentos, devido à espiga ereta e ao formato de coração em sua base, ela remete à sexualidade intensa.
E agora? Dizer o quê?
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Agora tô curiosa....viajei e me sinto a personagem querendo saber"quem enviou ?"...
Nossa … amei !!!coisa mais gostosa de ler …bjos!