Taís Civitarese
Outro dia, Leo entrou numa loja de vinis antigos. Manipulou dúzias. Escolheu quatro. Chegou em casa animado com suas aquisições e colocou-os expostos sobre a mesa.
Num momento, Leo coçou o olho. E em poucos segundos, seu globo ocular esquerdo transformou-se em uma bola de pingue-pongue vermelha e lacrimejante, inchada e pruriginosa.
Corremos atrás de colírio antialérgico, soro gelado, remédio oral. Melhorou em algumas horas, mas o desconforto permaneceu por dias.
Pensando sobre o acontecido, deduzi que a culpa do incidente foi de algum ácaro musical carreado pelo vinil vintage. E lembrei-me de outros males também provocados por coisas antigas.
Ultimamente, tenho tido dificuldade de olhar para o passado sem certo ranço. Sem pensar que os avanços civilizatórios atuais chegaram deveras tarde. Sobretudo no campo do feminismo, do respeito à diversidade e dos direitos das mulheres. Sem pensar em quantas coisas ruins poderiam ter sido evitadas caso tivéssemos despertado antes.
Ando implicada com ideias velhas. Com épocas velhas. Com costumes antigos. Creio que esse mal estar vá passar e tornar-se, ele mesmo, uma obsolescência. No entanto, para o momento, de velhos bastamos nós e a boa música.