Estou esperando que Nadja termine seu tratamento de dentes pra levá-la pra casa. Sou uma boa avó e hoje, atendo a um pedido da minha nora que não poderá vir, serei eu a ir buscá-la.
Como ótima avó que sou, entregarei a netinha linda, respirarei fundo e voltarei correndo para a minha casa vazia que espera por mim, cheia de silêncios que me nutrem e afagam…
A cada dia que passa ando mais impaciente com a meninada que me cerca: netos, netos de amigas, meninada em geral. Não posso reclamar, minha neta é uma menina educada, estudiosa, muito carinhosa e agradável. Vai fazer quinze anos e eu reconheço perfeitamente que seu universo é outro.
As músicas que ela ouve são terríveis, horrorosas; não têm letra, nem harmonia, nem rimas e cheias de erro de português. Os cantores e cantoras, quase todos de voz muito feia, berram e em dupla, berram ainda mais. Ah, e um refrão insuportável que (você querendo ou não, gruda nos ouvidos), e assim são chamados de “chicletes”.
Cada época é uma época e longe de mim, fazer qualquer comentário, mas quando se diz que o idoso, “tipo assim” tá por fora é porque estamos mesmo. As gírias são próprias de cada época e a gente as aceita, não nos resta mais nada. Mas fico de cabelo em pé com os tipo, tipo assim! Apresentadores de Tv, jornalistas, atores, entrevistados e entrevistadores, todos embalados no tipo, tipo assim cheios de éééééééé´, entre uma frase e outra.
– E por que você fica prestando atenção nestas coisas e não se concentra nas notícias, diz meu filho. É, pode ser um bom exercício para diminuir minha irritação, impaciência, intolerância, implicância, etc É verdade, deve ser da idade.
Numa noite dessas, ela veio dormir comigo.
De manhã, meu filho e minha nora passariam pra pegá-la, pois iriam visitar a outra Vó.
– Ah, Vó, rola de ver Big Brother?
– Sim, filha, pode colocar no canal que você quiser.
– De boa, Vó, dá pra abaixar o som dos “sinfonia” que cê escuta? Vem ver comigo, é da hora, cê vai gostar, vem!
Eu fui, e enquanto assistíamos o programa ela me contava tudo sobre cada um dos participantes. Chamava a todos eles pelos apelidos, como se fosse íntima de cada um. Emitia sua opinião classificando com veemência, os bons jogadores, os bobalhões, as ridículas e por aí íamos, as duas entregues ao BBB. (Meu Deus do céu e da terra!)
Assistimos a umas provas de resistência com os brothers quase morrendo de rodar num carrossel sob vento, chuva, mais vento, mais chuva e o carrossel girando, girando. Aquilo durou horas. Fiquei enjoada só de ver!
E eu lá, assistindo com ela…
Houve briga: uma das participantes surtou, quebrou coisas, gritou e eu fiquei assustada. O nível era de quinta categoria, o palavreado daqueles, ninguém ouvia o outro e a louquinha lá, quebrando tudo. Najda nem piscava, olhando a TV. Já estava no segundo pacote de pipoca. Resolvi pegar um suco pra nós. Fazia calor e ainda teríamos mais BBB pela frente.
– Mano, que irado. Cê viu, Vó, a carinha endoidou de vez. Tá gostando?
– Não muito, filha, mas vejo com você!
– Ah, Vó, é muito maneiro, tá ligada? – Risos – É assim que eles falam Vó, repetem a mesma coisa mil vezes; aí a gente também fala igual
– É! sorri meio amarelo.
Resultado, o que eu aproveitei daquela noite diferente?
– ouvi 1.236 vezes: tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo, tipo;
– 1.100 vezes: tipo assim, tipo assim, tipo assim, tipo assim, tipo assim;
– 1.098 vezes: tá ligado mano, tá ligado mano, tá ligado mano;
– 986 vezes: ó cara, ó cara, ó cara, ó cara, ó cara (pra homens e mulheres)
– 846 vezes: sacou mano, sacou mano, sacou mano, sacou mano;
– 750 vezes: éééééééééé;
– Ouvi discussões, beijos molhados, pulos na piscina, dancinhas “da hora”, festa animada, muitas comidas & bebidas; gritaria, muita gritaria;
– Quartos tão desarrumados que me perguntei como um ser humano conseguia viver em tamanho lixo.
No embalo da noite, apesar do barulho, consegui cochilar.
Não sei por quanto tempo; acordei com a Najda me chamando:
– Vem Vó, vão pra cama, já acabou!
(Rô, vc ainda não tem netos, mas quando tiver, prepare-se: é uma luta! Se der, conte a minha história com Nadja. Vou mostrar pra ela e aposto que vamos rir juntas. Um beijo e obrigada, S.)
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Ótimo desabafo de vó. Infelizmente creio q seja assim mesmo . Parabéns Rosângela Maluf.
É isso aí, legal né, é um barato , qual lé, bora ver amanhã mais .....kkkkk.
Tô fora mano.
Um beijão,
Adorei.