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Olá, Esperança!

Daniela Mata Machado

De domingo para cá, tenho a sensação de não conseguir pensar em muitas coisas. Ou talvez eu já possa pensar em coisas mais prosaicas ou menos graves. De algum modo, estou sorrindo mais. Acho, inclusive, que havia me esquecido de como sorrir e andava mesmo irritada com arroubos de felicidade em tempos de muita tristeza. Sim, eu sei que a maioria das coisas segue bem igual. Não tenho a intenção de lhe roubar a melancolia ou o niilismo, se você escolhe assim. Mas é que, de alguma maneira, meu corpo agora decidiu, por conta própria, deixar ceder toda aquela tensão que andava me transformando numa versão ampliada do Soldadinho de Chumbo.

Foi como se toda a dor me pedisse uma trégua e eu decidisse conceder uma valsa à leveza que venho buscando há tantos anos. Pode ter sido a sessão de acupuntura que fiz na segunda-feira – uma amiga me disse que devia ter Rivotril naquela agulha – ou talvez a ressaca após uma descarga exagerada de cortisol durante a apuração das eleições, no último domingo. Ou pode ser apenas que meu corpo tenha finalmente se cansado de carregar toda aquela armadura que vinha me tornando rígida e protegida contra qualquer contato que pudesse me ferir. Ah! Como eu quero acreditar nessa última hipótese!

Sim, meus amores, são demais os perigos desta vida. São imensos os ódios. É gigantesco o impacto das manifestações de caminhoneiros nas estradas. Sim, eu ainda assisto ao noticiário. Mas é possível que o encerramento de outubro, num desfecho apoteótico para quem, antes mesmo de aprender a ler ou escrever, já havia sido alfabetizada na cartilha da democracia, tenha aberto em mim um portal para um estado mais harmônico.

Segue tudo como dantes no quartel de Abrantes, como diria a minha mãe. Mas, esperem: não tudo. Na noite de domingo, uma velha amiga entrou em cena e – sem tirar o crédito das agulhas da acupuntura – me eu a possibilidade dessa leveza em meio ao caos. Domingo, após um longo período de escuridão, eu pude dizer: “Olá, Esperança! Bem-vinda de volta! Vamos lá construir um futuro melhor”. A Certeza, mais uma vez, não veio (às vezes, desconfio que ela deve ser prima do Papai Noel). A Liberdade, com toda a sua exuberância, também ainda não chegou. Mas o reforço da Esperança me trouxe essa alma leve e a tranquilidade de que agora não está mais proibido acreditar.

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