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O mar e Mariana

Peter Rossi

Sílvio e Mariana se conheceram ainda meninos. Um encantamento de olhares. Prometeram estar sempre juntos, viver um com o outro e aquilo que a vida não lhes desse, tratariam de imaginar. Se não visse o luar, desenhariam a lua mais linda no papelão e pregariam em frente à janela. Os dias de sol eram vistos em riscos de giz sobre o passeio.

Combinaram sempre andar de mãos dadas, mesmo quando estivessem longe um do outro. Mariana emprestava a sua mão para Sílvio e ele fazia o mesmo. Assim, ambos caminhavam com uma mão própria e a outra emprestada. Bastava esfregar uma na outra. E assim sempre fizeram.

Prometeram que os beijos seriam únicos. Um simples beijo duraria a vida inteira. Se beijaram, e nunca mais imaginaram lábios separados.

Todas as promessas se cumpriram. Concluíram todas as séries e foram para a faculdade – a mesma!

Se formaram e com o apoio dos pais, se casaram. Compraram uma casinha simples, com um quintal à frente. Sílvio debruçado sobre as flores, a fazer nascer uma mais linda que a outra. Mariana, na varanda, em frente ao tripé, cuidava de eternizar aquelas imagens, com pincel, tintas e tela.

Foram muitas as luas, muito brindes, muitas pinceladas. Os filhos não vieram. Vai ver a vida entendeu que bastavam os dois. Por mais que quisessem e pensassem, não aconteceu. Mas nada acontece, ou não acontece, por acaso. Foram felizes assim.

Pensaram num cachorrinho e até em passarinhos. Calopsitas? Papagaios? Mas seguiram só. Só não, plenos dos dois. O mundo que passasse à volta!

Se amaram, sempre e a todo dia! Se admiraram se quiseram, sentiram saudade por segundos que fossem.

Combinaram de conhecer o mar. Eram das montanhas, nunca tinham visto o mar, não fosse nos livros de poemas e nas canções de amor.

Iriam juntos, de mãos dadas, como sempre fizeram. No próximo verão, Sílvio e Mariana estariam na praia, deitados na areia, a sentir a água do mar abraçar suas pernas. Olhariam um para o outro e perceberiam que não precisariam de mais nada.

Mas, num dia de outono, Mariana perdeu as forças na perna e ficou deitada. Sílvio cuidou de embrulha-la no cobertor e lhe trazer um chá quente todos os dias. Os olhos de Mariana foram perdendo o brilho e alguns dias depois, Sílvio compreendeu que deveria deixar um espaço no jardim. 

E assim fez. Deitou sua Mariana e a cobriu de rosas brancas e amarelas.

Não fazia mais sentido ficar ali. Tinha coisas importantes a fazer. A casa, o jardim, a lua, sem Mariana, não eram mais a mesma coisa.

Mas e o mar? Não combinaram de conhecer o mar?

Sílvio colocou numa pequena valise algumas peças de roupa e seguiu até o litoral. Não era verão ainda, mas isso pouco importava. Ele chegaria até o mar.

E assim aconteceu, como numa história de amor. 

Chegou até a praia, sentou-se na areia e ficou ali, olhando aquela espuma, as ondas, sentindo o cheiro do sal.

Não se deu conta de uma pequena menina, talvez de uns dez anos, que observando aquele velho sentado na areia e aguçada pela curiosidade que as crianças têm, perguntou:

– Oi Tio! Você está gostando da praia? Veio sozinho?

– Estou gostando e muito. Não vim sozinho. Vim com Mariana.

A menina olhou ao redor e nada percebeu.

– Como assim?

– É que quando a gente ama demais uma pessoa, leva um pedaço dela dentro da gente. Eu trouxe Mariana para ver o mar, ela queria tanto…

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