Quando te vi pela primeira vez, confesso que te odiei logo de cara. Até aquele exato momento, eu não havia experimentado nada que fizesse doer tanto e que ao mesmo tempo me deixasse tantas perguntas.
Era de uma presunção incisiva que me rasgava mecanicamente sem a menor compaixão, sem direito a uma dose de morfina ou qualquer anestésico que compadecesse da minha dor.
Tinha uma altivez absurda que me limitava, me reduzindo a pó sem a menor parcimônia ou algo que pudesse tirar aqueles dias acinzentados da minha alma.
Esbravejei com todas as forças que haviam em mim e me rebelei gritando aos quatro cantos a minha inabilidade em lidar com aquele desaforo. Mas ela simplesmente fingiu que não me ouviu, me deixando ali, atônita, me virando as costas sem nem sequer olhar para trás.
Na verdade, eu já havia ouvido falar desse seu jeito abrasivo e aterrorizador, porém ainda não havíamos nos encontrado cara a cara. Como ela poderia arrancar parte de mim assim, sem um aviso ou uma permissão?
Mas ela fez.
E tudo que eu desejei desesperadamente foi nunca mais ter que estar diante daquela sua fúria descontrolada. No entanto, quando eu menos esperei, ela estava ali novamente bem à minha frente com todo o seu descaso, sem que, mais uma vez, eu nada pudesse fazer.
Ela estava ali totalmente à vontade, cruzando os meus braços, tapando a minha boca, molhando os meus olhos. Cortando o meu coração afiadamente e me fazendo entender o que é saudade.
Um dia, já me sentindo exausta, resolvi questionar a quem quer que pudesse me dar uma explicação. Alguma força superior que me fizesse compreender os seus absurdos e a sua maneira deslavada de rir da minha cara.
Quem é essa tal de morte que tanto faz ferir?
E naquele instante um torpor tomou conta de mim.
Enxerguei que ela está em todos os cantos e que nos visita em vários momentos sem que tenhamos essa percepção.
Todos os dias, algum sonho morre dentro da gente, alegrias morrem dentro da gente, amores morrem dentro da gente e tantas outras coisas dentro da gente dão o seu último suspiro.
Aprendi que a vida não se encerra no momento em que a morte chega para nos levar ou para levar alguém que amamos. A vida vai muito além daquilo que o nosso coração consegue alcançar.
E a morte nos encontra todos os dias.
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Pernóstico, mas ao mesmo tempo instigante !!!
Uma leve passagem por algumas experiências.
Nada pretensioso.
Obrigada!
É única certeza que temos na vida... Todos a encontraremos infelizmente...
Lindo texto.
Parabéns mais uma vez.
Bjo
Obrigada!
Lindo texto Silvia , parabéns......
Gratidão!
Oi adorei maravilhoso sem palavras
Obrigada!
Uma cronista que desafia lei da física que assegura não poder dois corpos ocupar ao mesmo tempo um só lugar; uma cronista que se mostra em "Te odiei logo de cara" ter ao mesmo tempo duas personalidades distintas como se fora uma consulente perplexa buscando respostas à psicóloga terapêutica, papel que ela própria assume e que a profissional que ela é também não tem respostas.
Uma crônica que expressa inquietação , no entanto, àquela pergunta insidiosa que muitíssimas vezes nos ocorre e que nenhum improvável confessionário nos traz repostas: nosso papel na vida herdada de Deus.
Confessar admiração aos textos de Silvia Ribeiro pode ser pleonasmo.
Você sempre me encanta com a sua generosidade e gentileza.
Confesso que as vezes me faltam palavras pra retribuir todo esse carinho.
Do fundo do meu coração só posso dizer:
Gratidão!
Até mesmo.pra falar de algo tăo doloroso vc é especial ! Parabéns . Lindo texto !! Amo.vc minha flor !
Saudades .
Você é muito importante pra mim.
Obrigada!