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Atração platônica

Silvia Ribeiro

Ensaio algumas palavras para expressar a euforia que eu tenho em te dizer algumas coisas. Porém, elas engasgam na minha garganta. Para ser sincera, não tenho efusivas novidades, e o meu sorriso ainda é tímido diante dessa tempestade que se torna cada vez mais forte.

Crio cenários esperançosos e me deixo levar por uma conspiração entre a minha covardia em me revelar e a saliência dos meus desejos. Tenho toda a facilidade do mundo moderno, mas é fato que a minha destreza em me adaptar não anda lá essas coisas. Por isso eu me calo.

Te imagino fazendo o que bem quer com os meus lençóis, tratando o meu pijama como quem se sente carente de companhia. E creio na vontade dos seus lábios desacatando a minha silhueta e salvando mais uma noite de sonhos, enquanto eu tento conviver em harmonia com a minha vontade de te pertencer.

As minhas fantasias embarcam nas minhas loucuras, e traço alguns destinos com a verdadeira vontade de não estar em lugar algum. Apenas sair por aí. E, enquanto seguimos nessa busca, deixo que as suas mãos toquem as minhas pernas como se aquele momento valesse uma vida inteira. Isso é mais do que dizer de amor.

O meu olhar frágil me impede de viver tantas coisas que pra você passam desapercebidas e eu não caibo nessa caixinha de desilusões que subestima o que eu sinto. Depois de tantas andanças, tento encontrar razões para tudo. Até mesmo pra essa sua morosidade de sentimentos.

Penso que esse seu desdém pode vir de uma falta de narrativa mais envolvente, ou simplesmente um desinteresse que precisa arriscar um pouco mais. E por não ter nada mais bonito pra dizer, recorro à modernidade, e concluo que esse caso se trata do seguinte diagnóstico: atração platônica.
Já ouviram dizer?

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