Um grande amigo, em meio a algumas taças de um belo vinho tinto me apresentou uma música que, de fato, não conhecia. Não que não me lembrasse, nunca tinha ouvido antes. O nome: Prudência. Pelo tom melódico e ouvindo atentamente a letra pensei se tratar de mais uma obra prima do inesquecível Cartola. Pesquisando depois, não consegui confirmar a autoria. Com certeza, pela qualidade musical e literária, é do Cartola. Se não foi ele quem escreveu, suspirou a inspiração nos ouvidos de alguém!
A letra e o álcool colaboraram para que a música alcançasse nossos corações. A bem da verdade, eu me vi nela, como se fosse o seu compositor. As palavras ditas são as que defendo, aquelas nas quais acredito.
Em determinado trecho a música diz assim: Prudência, não me venha falar em prudência / As paixões que me descontrolaram / São as que fizeram eu ser como sou.
Nada mais visceral, direto e inquestionável. Somos nossas escolhas! E fugir delas, penso eu, é fugir de nós mesmos.
No particular, a tal da prudência nos inibe de vivenciar o “fora da caixa” que, a história mostra, é muitas vezes o mais divertido. Por prudência, não pulei de paraquedas. Por prudência, não tomei o Trem da Morte para a Bolívia. Por prudência eu não subi no palco e cantei aquela música que ensaiei tantas vezes. Por prudência, amei de menos, sofri demais. Por prudência, guardei dinheiro e não viajei ao Tibet, como sempre quis. Corri meio mundo, mas ao Tibet, ainda não fui. O pior que o dinheiro se acabou, outros Tibet’s o consumiram, por uma razão ou outra, mas não fiz a viagem.
Hoje tento uma relação de ambiguidade com a tal prudência. Se por um lado não saio nu pela rua, embora tenha tido esse rompante algumas vezes – e penso que todo ser humano já teve um dia – por outro, não tenho qualquer receio de dependurar algumas pulseiras, colocar uma camiseta preta e por cima dela uma jaqueta da mesma cor, como se fosse a um show de rock. Esse, aliás, é meu uniforme – jeans e camiseta preta.
Cultuo minhas tatuagens e minhas meias coloridas, algumas, berrantes, que alguns jamais usariam, em respeito a tal prudência.
Ouvindo a letra algumas vezes, faço uma regressão rápida e alcanço oportunidade perdidas, por vergonha ou por ter sido pudico. Hoje percebo a grande idiotice em não me ter permitido. A gente vai construindo barreiras e desvios e utilizando-os como bengala, tentamos nos justificar pela inércia.
Já tive medo sim. E o medo, dizem os sábios, é a exteriorização da prudência. Respeito o medo, por absoluto medo. O inesperado, o desconhecido. O medo que imaginamos nos ajudar, pode ser o mesmo que nos impede de viver grandes emoções.
Está aí o barato da vida! Saber ponderar, com prudência, quando devemos evitar ter prudência. Convexo ou complexo? E qual o ritmo a imprimir? Uma vida na valsa, ou alguns passos de samba?
A idade além de consumir nossos neurônios nos empresta uma coragem de super-herói e acabamos nos permitindo a atos antes inimagináveis. Aliás, falemos a verdade, se fossem prudentes, eles, os super-heróis, jamais existiriam. Mas parece que a idade rompe anteparos e estimula passos mais rápidos, em franco descompasso. Somos mais felizes por sermos um pouco mais … imprudentes!
E o amor, esse danado coração dançante! Há prudência em se entregar? Penso que não, se houver prudência simplesmente não há entrega, essa é a mais pura verdade.
Viver sem amor é algo que não se pode pretender. Sem amor não somos nada e ele, o amor, é inimigo declarado da prudência. Acho até que posso considerar antagônico.
Eu, por exemplo, não me furto a amar. A ver tudo com amor nos olhos, como diz uma outra música: “pela lente do amor”, salvo engano do Gilberto Gil. E aí, me desculpem os prudentes de plantão, mas eu me faço pelas loucuras que fiz e das quais não me arrependo. Forjei minha vida pelo sentir e dele não abro mão. Ainda que não tenha feito sempre as melhores escolhas, vivi e vivo o mais feliz que pude e posso. Sou, imprudentemente, feliz.
Choro com canções e romances. Me envolvo em histórias de vida e procuro imitar aquelas que mais me comovem. Tento me manter jovial através dos anéis, pulseiras, roupas e tatuagens. Deliberadamente procuro ser imprudente ao limite de que minha conveniência não perturbe. Quero olhos sempre abertos e atentos a fotografar cada minuto da vida. Quero mãos ágeis a tocar um instrumento e a manusear o teclado do computador. Gosto de dançar. Queria e tentei ser ator, pintor, ceramista. Na cozinha, procuro sair do óbvio e como druida inventar novas porções. Há quem diga que estou sendo imprudente, mas vejo o delírio que os sabores inusitados provocam no ser humano.
Enfim, as linhas traçadas me desafiam a saltitar, às vezes num pé, outras no outro. Os quadrados não me fascinam, ao contrário, me repugnam. Os limites alheios me trazem desconforto e, sempre que posso, tento pular o muro.
Não gosto da vida movida a post-its, com avisos luminosos a não nos deixar esquecer dos compromissos com nossos próprios calendários. Escolhemos antes, pensamos antes, monitoramos antes. Sei que muitos defendem essa postura. Não vou dizer que a condeno, apenas não a aplico. Como dizia o poeta “as velhas roupas coloridas não nos servem mais”. Alguns centímetros a mais na cintura e o previsto não é alcançado. Muito chato isso! Prefiro a amálgama, o espreguiçar do sonho, como um gato que acaba de acordar, esticando todos os pelos a pretender se sentir melhor.
Viva a vida! E que venha como vier! O inusitado final do filme, a próxima cena do filme é o que mais me encanta! Sentado na poltrona, no “escurinho do cinema”, veja saltar da tela todos beijos de amor, inclusive aqueles que nunca dei!
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