Taís Civitarese
Fiz 41 anos. Lembro quando meu pai fez 41 anos. Eu tinha 9 anos. A idade que meu filho mais velho tem hoje. Não parece que passou tanto tempo.
As memórias estão todas aqui misturadas no meu hipocampo. Cavalgam sem destino montadas no cavalo marinho.
Eu sou eu ou sou meu pai? Sou eu ou sou meu menino? Meu menino já existia naquela cena em que meu pai fazia anos?
Meu pai tem os cabelos perolados pelo tempo e eles começam a ficar ralos na frente. Ainda o enxergo com os cabelos pretos, cheios e lisos. Todos sempre disseram que nos parecemos. Hoje, me torno ele. Tenho 41 anos. Isso é tão perturbador porque me sinto uma menina. Me sinto como me sentia aos 9 anos. Me sinto como meu filho. Não me sinto madura. Talvez jamais o serei.
Esses 41 me deixam em um campo intermediário da velhice e juventude. Caminho para a dita meia idade, apesar de me sentir criança. De ter saudades de menina. De querer minha avó na minha festa de aniversário. De gostar de canetas, brilho de lábios e miçangas.
Mesmo pagando impostos. Impostos não tornam ninguém adulta. Essas marcas na pele que tento esconder, tampouco. O que me adultece são os meus aprendizados. É a calma que sinto, ao contrário da aflição de antes. É também não ter perdido os sonhos. Eu sou meu pai, sou meu filho, sou sonhos, sou medos. Sou criança, sou adulta, sou casca, sou queratina e sou um recheio de randômicas lembranças.