Impostora

Tais Civitarese

Tenho medo de me descobrirem. De perceberem a fraude que sou. De revelarem toda a minha incapacidade. De escancararem a verdade.

Tenho medo de me acharem aqui. E constatarem que houve um erro. Eu não era a pessoa certa. Não era eu.

Receio me mandarem embora para nunca mais voltar.

Todos os dias, tenho medo. Uma hora, alguém vai perceber. Uma hora, irão notar. E terei que partir tal qual uma impostora.

Não era para eu estar aqui. Não sou como eles. Não tenho as credenciais. Não cumpri os pré-requisitos.

Sou apenas eu e um pouco de cara de pau e coragem. Não basta. É preciso ter predicados. Sobrenomes. Uma cauda de títulos. Louros. Láureas. É preciso fazer o percurso. Completar o checklist.

Sinceramente, não tive tempo. Não tive desejo. Abri uma trilha exótica. Possivelmente, excêntrica. Segui caminhando ao som de outros hinos que não os consagrados pela civilização. Aqui cheguei. E trabalho. E vou em frente. Mas tenho medo. Uma hora, virão me buscar. Uma hora, me arrancarão daqui e me atirarão ao limbo dos insuficientes. Porque simplesmente não sou o que deveria ser.

Que não me achem. Ficarei calada. E se vierem, aceitarei. Porque eles tinham razão em tudo. E eu era apenas convencida demais.

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