Léo Sequela tem vinte e poucos anos e vendia trouxinhas de maconha na esquina quando era um pouco mais moleque. Estreou a maioridade em cana. No dia que completou 18 anos, a polícia invadiu o seu barracão, sem mandado, mas com um belo chute na porta, e encontrou um pouco de erva embalada para pronta entrega. Léo Sequela, incapaz de matar uma mosca, não resistiu à abordagem. Falou sim senhor, não senhor, entrou na viatura e passou a noite no xadrez, aguardando o encontro com o juiz.

Isso já faz alguns anos, mas Léo Sequela jamais esqueceu a fome que passou, o cheiro de urina do cárcere e o soco no estômago desferido pelo Sargento Gomes que, gentilmente, lhe conduziu à cela.

Outro dia, Léo Sequela entrou no escritório do Dr. Vilas Boas com uma sentença debaixo do braço. A pena foi fixada em seu patamar mínimo, já que o rapaz nunca havia se envolvido com roubos, assassinatos ou coisa pior: cinco anos de cana.

Ocorre que, entre a data do flagrante e da sentença, Léo Sequela já havia mudado de ramo. Agora vendia quibes e esfirras na lojinha do Seu Farid. Carteira assinada, hora para chegar, hora para sair e salário no bolso. Seria um trabalhador como qualquer outro senão tivesse que seguir o conselho do Dr. Vilas Boas: pediu as contas e foi cumprir a pena.

Seu Farid lamentou, mas acompanhou o garoto até o encontro com o que convencionou-se chamar de Justiça, entregando menino às garras do Estado repressor.

Na prisão, Léo Sequela conheceu Chico dos Porcos, um traficante respeitável, que se tornou conhecido por matar os seus desafetos e dá-los de comer aos porcos. Também se aproximou de Carlos Carabina, um assassino frio e cruel, que matava em troca de dinheiro. Trocou figurinhas com João Matemático, um verdadeiro intelectual do crime, capaz de arquitetar roubos cinematográficos e assassinatos perfeitos, jamais tendo sido preso senão por traição de um parceiro do crime sem caráter.

Léo Sequela tornou-se ainda muito chegado do Sr. Miguel, um velho misterioso que cumpre pena desde 1982 por razão desconhecida, mas que era um grande conhecedor dos meandros da prisão, sendo uma espécie de pai dos detentos. Passou a admirar a mentalidade nada convencional de Marcelo Picanha, um homem aparentemente comum, que certo dia resolveu matar a sua esposa, cortá-la em cubos e depois comê-los com arroz e farofa. Tornaram-se bons amigos os dois.

O rapaz logo se entrosou também com o pessoal do futebol, disputando a da Copa das Penitenciárias ao lado de Marcelo Filha do Pauta, na ponta direita, Roberto Mata Leão, na esquerda, Paulão Cruel, Arnaldo Mauzinho e Pedro Carrasco na zaga, e a dupla-fenômeno, Maníaco da Praça e Márcio Psicopata, na frente.

Em meio a tais companhias, o tempo passou rápido para o rapaz na prisão. Sem falar que, com bom comportamento, cinco anos de cana foram reduzidos a três. Três anos de muitas lições e da mais qualificada teoria, diga-se de passagem.

Hoje é o primeiro dia de liberdade de Léo Sequela. Ele está pronto para pôr todo o seu conhecimento em prática e, quem sabe, cruzar com você por aí.

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Guilherme Scarpellini

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Tags: Ficção

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