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Anjo Negro

Peter Rossi

Tem gente que não é apenas gente, é anjo. Eles sofrem e pensamos como nós, que não vão aguentar. Mas eles aguentam, afinal têm asas. Quando cansados, dão uma voada e pousam noutro lugar e ali recuperam as forças.

O mais engraçado é que os vendo a gente não imagina como são na essência. A nossa tendência, aliás, é minimizar. Nossos olhos são míopes, não enxergam nada demais.

Esses caras parecem viver noutro mundo, o pouco é muito, o abraço é abrigo, o amigo é irmão. Se dão tanto e pouco precisam. Nós, mesquinhos, nem percebemos. Julgamos o que não é pra ser julgado. Medimos pela nossa régua e daí nasce o equívoco.

Com esse tipo de gente, ou de anjo, temos apenas que esperar. Eles virão a nós, a nossa alma e sempre vão nos amparar.

Vida de anjo não deve ser fácil mesmo. O cara sofre, sofre, sofre e sempre está ali com o mesmo sorriso, o mesmo frescor na alma, e a gente sempre reclamando.

Eles são mudos porque os argumentos saem da alma. Um simples olhar, um sorriso, um abraço e tudo está resolvido.
Conheci um anjo desses, morando no seio da minha família. Ele recebeu essa incumbência e foi craque, fez tudo direitinho. Espalhou amor, paz, paciência, resiliência e a gente quase nem notava, mas ele estava ali perto. Saía de cena como entrou, como um gato na noite, sem fazer qualquer barulho.

Mas tudo tem um fim, por mais que doa, tem um fim. As missões começam, mas devem terminar.

Já falei, ser anjo deve ser difícil pra caramba, eles perdem até o fôlego de tanto ajudar, sem pedir nada em troca.

Anjos compartilham no silêncio.

Me lembro dele com meu sobrinho no colo, a caminhar pela fazenda, com todo carinho, amor e paciência. Como o menino gostava de estar ali. Meninos e anjos conversam, a gente é que não percebe. Naqueles dias consegui ver como a vida é simples se bem vivida. O menino e o anjo de mãos dadas.

Tinha que se chamar José. Um José de tal, José de todos, que abandonou suas raízes pra plantar tantas outras outras. Ele não se foi, ele virou árvore e com ela trouxe uma sombra, aquela que acalenta, que acalma, que ensina, que abriga. O menino, com certeza, ainda brincará muito ali.

Nesse momento de dor seguimos egoístas, sempre a sofrer em nós. Mais fácil chorar que admirar o legado. Com poucas letras ele escreveu o que não conseguimos ler. Com poucas palavras, nos disse tudo que devíamos ouvir. Devemos ser gratos e entender que a vida segue, abastecidos com suas lições seguiremos também melhores, afinal essa foi a sua missão: nos ensinar!

Obrigado, Zé Geraldo, anjo negro, como tantos Zés, mas melhor que todos. Obrigado!

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