Li em algum lugar que a mente ocupada é inimiga da criatividade. Pura verdade. Em semanas como esta, que não parei para ouvir música, ler ficção e olhar para o meu umbigo, eu não consigo escrever. Não por acaso escritores se isolam. O melhor lugar para escrever é onde se ouvem os grilos. Com a mente inquieta, nada de produtivo vem a ela. Nem uma inspiração para um conto de terror.
Aliás, na última semana, eu escrevi um bom conto de terror — ao menos, foi o que me pareceu, até uma amiga dizer o contrário. Sentei no escritório silencioso por uma hora e escrevi sobre o fantasma do banheiro público. Uma amiga que trabalha na OIT me encaminhou uma mensagem me parabenizando pelo texto.
Ela enxergou ali uma denúncia implícita às precariedades do trabalho de quem precisa limpar banheiros públicos. Agradeci e disse que realmente eu estava inconformado com as condições insalubres de trabalho. Só que, na verdade, eu só queria ser assustador e criar um ambiente sórdido.
Logo, falhei transmitir o que eu queria. Falhei em escrever. Mas o conto ainda me parece bom. Melhor do que esse texto, pelo menos, eu garanto que é. Sugiro o leitor interromper imediatamente esta leitura e voltar ao conto da semana passada. Caso insista em seguir em frente, vá lá. Mas eu não me responsabilizo. Afinal de contas, o tempo é seu e você o desperdiça da forma que lhe aprouver. Tempo.
Quem inventou a porra do tempo? Eu ando muito sem tempo e já começo a me preocupar com o meu futuro neste querido espaço de escrita. Está certo que a falta de tempo é um bom sinal. Significa que estou recebendo demandas no escritório, isto é, que estou tirando o pé da lama. Mas será que vou entregar ao leitor uma perda de tempo como essa todas as semanas? Prefiro não escrever a isso. Ainda assim, acho melhor isso do repetir texto. Você, colega escritor, já precisou requentar café alguma vez na vida? Pois é. Nem queira. Então não faça isso com o seu leitor.
Não requente um texto velho e frio. Voltando ao tempo, tempo é tão precioso como o ar que respiramos. E a falta de tempo é como uma corda no pescoço. Assisti, no último fim de semana, a uma série disponível no Amazon Prime sobre uma fenda no tempo. Interessante a ideia. Você entra nela e experimenta a ausência de tempo, imagina só. Está aí! Uma fenda no tempo. Se eu descobrisse um espaço onde não houvesse tempo, me tornaria mais feliz, mais criativo e, talvez, um escritor de verdade. Enquanto isso, eu sigo fingindo bem.
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