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O meu sapato de dança

Com você vivi as artimanhas do amor, e na busca de inventar uma demora pra aqueles entardeceres, que se declaravam pra mim como uma ventania de outono.

Os nossos corpos tinham assunto, e não havia outra razão pra me entregar, que não fosse aquela alquimia que me embelezava por dentro.

A nossa libido era bem humorada, e na delicadeza de uma linguagem egoísta, que se expressava através de toques, me transportei para a sua alma.

Uma inocência costumeira dizia de um querer que não se adia. E ao fechar os olhos íntimas confidências me consolavam, se alongando nas minhas empolgações. Feito  um porto seguro que me fazia ser criança mais uma vez.

Nas dobras desalinhadas dos lençóis, os nossos desejos sorriam de palavra em palavra. A minha lingerie cantava de forma libertina, levando os meus suspiros para uma mansa ironia do destino. Isso me lembrava alguém que não conhece as invenções do tempo.

Interpretando o seu prazer prometi crer no seus lábios que me conheciam tão bem, e nas pequenas utopias que entretinham os meus instintos. Aos poucos as nossas loucuras deixavam estilhaços de amor, como se esse por si só conhecesse uma maneira de estar em nós dois.

Me sentia desconstruída dentro daqueles instantes, com uma crença profunda nos seus olhos, me dizendo o que fazer com aquele depois, que já gesticalava uma saudade.

Coloquei o meu sapato de dança e no compasso do seu corpo eu fui feliz.

*
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