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Crônica feliz

Peter Rossi

Em frente ao computador, buscando inspiração para a próxima crônica. E são tantas, infinitas… Pensei em falar sobre a crise atual, a famigerada guerra entre os povos, mas entendi que perpetuar essa questão talvez não fosse a melhor opção. Não que tenha interesse em me omitir, claro que não! Apenas penso que este é um tema árduo que ainda merece esperar melhores reflexões. Abomino o que está acontecendo, mas quero entender melhor.

Em seguida pensei em falar da vida. Muito clichê, não é? Embora seja um tema recorrente, tenho sempre que lembrar que alguém me lê. Não posso insistir na mesma tinta, embora eu ache que a cor é indescritível.

Falar de mim? Não! Não é o melhor momento. Perdi a grande oportunidade. Essas coisas indeléveis que não se sustentam, mas sem peso, nos afundam. Também não é o melhor momento a falar sobre isso.

Pensei, então, em falar sobre você! Me agrada o tema, a imagem, a nuvem, o sorriso, o brilho. Como uma escola de samba, a começar pela comissão de frente. Esse é mesmo um tema que vale a pena.

Mas falar de você sem mim, você fica bem melhor assim. Imaginar atrás da câmera a fotografar o cantar dos pássaros. Atrás da vida, a brilhar como um sol.

Me dou conta que esta é uma crônica feliz. Muito gostoso lembrar que alguma coisa aconteceu, ainda que tênue, rápida, como o voar do pássaro no galho da árvore. Eu talvez não estivesse tão atento. Embevecido por tudo que estava a acontecer, não me dei conta de ter às mãos o estojo de primeiros socorros. E entre uma crise e outra, a saúde piora. Não fui eficiente, mas a vida – olha ela aí, e eu a dizer que não falaria dela – acaba por dar ares de natureza e nos envolve com um manto de relva e mantém a temperatura de nossos corpos.

Vieram os dias que acabam o ano. Músicas, cestas e drinques. Os pássaros sempre lá. Luzes emprestadas, danças improvisadas, e nós sempre lá, ainda que não estivéssemos. O ano passado passou assim, e foi muito bom!

Novos céus, novas nuvens, alguns desencontros. Altivos pensamos que a vida se arranjaria sozinha – olha a danada aí! Nada disso, ela nos permite alguns encaixes, mas a jogada, o taco na bola, somos nós a impulsionar.

Mas essa ainda é uma crônica feliz, lembrando assovios, absolutamente ritmados e sem qualquer desafino, parecia até um pássaro, daqueles que as lentes das máquinas as vezes flagram, muito raramente, mas o fazem. Pássaros que, entretanto, não merecem qualquer gaiola – nenhum deles, na verdade, merece – mas esse, em especial, bastava pousar na palma da minha mão.

Mais velho, compreendo que a palma da mão, às vezes, se transforma em gaiola. E no ímpeto de manter conosco, impedimos de ver voar nossas melhores sensações. Como tolos somos. Baixemos as grades, refutemos qualquer forma de amor que não for plena, que não possa voar, sentir o calor do céu, e voltar na sacada de nossas janelas, fazendo companhia no entardecer, apenas pelo prazer de apenas querer ficar.

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