Para tia Lelena (in memorian) e sua filha Juliana Jayme, amiga e comadre, que nunca me deixou esquecer a pergunta de sua mãe:
– Como sabeis que é má sorte?
Com essa pergunta, a minha muito sábia tia Lelena costumava acalmar o coração dos sobrinhos e dos filhos quando o chão parecia se abrir sob os nossos pés. E hoje entendo que é muito mais comum do que eu podia imaginar naquela época isso de o chão, subitamente, abrir-se sob os nossos pés.
Aflitos e ansiosos, nós geralmente queremos respostas, mas as respostas não acalmam. Elas apenas fecham todas as possibilidades. As perguntas ampliam porque são abertas, pródigas em caminhos e novas perspectivas. Não sabemos se é má sorte. Tampouco sabemos se é boa sorte. Não sabemos, apenas. E não saber é poder repousar no espaço amplo de uma pergunta aberta.
Entretanto, justo nós, que tanto clamamos por liberdade, milhares de vezes nos angustiamos pelas respostas fechadas, certeiras… e aprisionadoras. Queremos ter a certeza de que nada irá nos surpreender e de que a vida vai seguir o script dos nossos planos, sem o incômodo das intempéries. Tornamo-nos ansiosos ante a menor possibilidade de que os nossos minuciosos projetos se frustrem. E não nos damos conta de que o controle da vida não é simplesmente impossível. Ele é também indesejável.
“A má notícia é que você está em queda livre.
A boa notícia é que não há chão.”
Eu ainda não havia lido essa citação de Chogyam Trungpa quando tinha pesadelos recorrentes com uma queda infinita no que parecia ser aquele túnel em que Alice despenca para a toca do coelho apressado, no clássico romance de Lewis Carrol. A ideia de impermanência era apavorante para mim. Honestamente, talvez ainda seja. Mas naqueles tempos eu me agarrava a qualquer coisa que parecesse sólida. E, invariavelmente, terminava por descobrir, desolada, que “tudo o que é sólido desmancha no ar” (sim, eu adoro esse título de Marshall Berman).
Esses dias me lembrei da pergunta de tia Lelena. E entendi que ela era muito mais sábia do que eu podia supor. Nos inúmeros caminhos que tomei ao longo dos meus quarenta e tantos anos, uma vez fui estudar filosofia. Comecei uma pós-graduação na UFMG, mas não a concluí. Daqueles seis meses de curso, ficou apenas a certeza de que os maiores filósofos eram as crianças, capazes de olharem para o universo inteiro com um grande olhar perguntador e nenhuma certeza. A maternidade, que só fui viver vários anos depois, confirmou minha suspeita. As crianças são mesmo muito mais sábias do que todas essas pessoas grandes cheias de respostas.
– Como sabeis que é má sorte?
Como sabeis que tudo já está pronto? Como sabeis que não há nada além dessa solidez que tu podes tocar? Como sabeis que não há esperança?
Um dos livros mais encantadores que li recentemente chama-se O poder de uma pergunta aberta, de Elizabeth Mattis-Namgyel (Editora Lúcida Letra). Me deu vontade de citar um trechinho dele:
“A vida é abundante. De fato, a vida é tão comovente, curiosa, triste, excitante, assustadora e agridoce que às vezes chega a ser insuportável. Mas, como seres humanos, precisamos nos perguntar: ‘Devemos rejeitar a abundância da vida?’. Rejeitar ou não rejeitar – estar aberto –, eis a questão. E esse tipo de questionamento nos leva ao coração da investigação pessoal e nos ensina a acolher plenamente nossa humanidade.”
Essa abundância da vida, tão mais farta e ampla que todos os conceitos e espaços em que tentamos encaixotá-la, me leva também às Barras de Access, uma das técnicas terapêuticas que utilizo em meus atendimentos. Quando corremos as Barras, não nos preocupamos com as respostas, mas frequentemente focamos apenas em uma pergunta aberta:
– O que mais é possível que eu ainda não considerei?
Se você quiser agendar uma sessão de Barras de Access em Belo Horizonte – meus atendimentos são realizados no bairro Carmo-Sion –, pode me mandar uma mensagem de texto pelo whatsapp (+55.31.98395.5144) ou fazer seu agendamento pelo formulário online: https://form.jotform.com/211924450933656
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