Para Dora
Na madrugada em que a Rússia invadiu a Ucrânia, eu estava dormindo. Acordei e li a mensagem de uma amiga no whatstapp: “Guerra”. À tarde, minha filha não saiu do computador e eu não sabia se ela passara mais tempo estudando ou vendo vídeos no YouTube. Confesso que apostava na segunda opção. Na manhã seguinte, descobri que ela tinha passado a maior parte da tarde vendo cenas de guerra. “Eles tocaram a sirene, mãe”, ela me disse com um ar muito grave, talvez se lembrando da sirene que também tocavam no Diário de Anne Frank, que ela leu há pouco tempo. “Tinha um casal com duas crianças muito pequenas”, ela completou. “Elas não vão morrer, né?”, era uma pergunta-súplica que eu preferi não responder. Ela tem 13 anos e já sabia a resposta.
Quando eu tinha dois anos menos que ela, um boneco esquisito chamado Fofão cantava, com a banda Balão Mágico, uma canção que me veio à cabeça como um pensamento alienígena no momento em que eu via as imagens da guerra.
“Enquanto o mundo fala em guerra nas estrelas,
Vamos explodir amor
Pra que cada criança não tenha só lembrança
Da imagem de uma flor.”
Na idade da minha filha, eu achava que as guerras eram ameaças distantes, que só cabiam nos filmes de Sylvester Stalone, que eu assistia no Cine Palladium. A gente driblava os perigos e as ameaças reais com uma esperança de dias melhores que era quase a marca daquela molecada meio porra-louca, que cresceu assistindo a banheira do Gugu, viajando no porta-malas do fusca e usufruindo do desbunde que ganhou passaporte para existir desde a queda do governo militar. Tinha muita coisa ferrada. Mas a gente tinha uma certeza cega de que a esperança era a nossa espada do He-man.
Eu nasci em 1974, quando o Brasil ainda era um lugar bem ruim para quem desejava a liberdade. E vi a liberdade nascer e a esperança crescer junto comigo. Era tipo um filme com final feliz. Minha filha nasceu em um momento que o mundo parecia bem melhor que antes. Mas, aos 13 anos, ela vai à escola com uma máscara que lhe tampa a boca e o nariz e se angustia verdadeiramente com uma guerra no Leste Europeu. Ela é muito, muito melhor do que eu. Mas eu gostaria que ela pudesse experimentar a esperança, a alegria e o desbunde que fazem tão bem aos adolescentes. Se eu pudesse pedir alguma coisa ao universo, pediria que, antes de nos expulsar aqui deste planetinha onde estragamos quase tudo, desse a essa meninada a chance de reconstruir as coisas de um jeito que a gente definitivamente não soube.
“Não podem acabar com o nosso planeta
Porque o mundo é você
Você é a esperança de um novo dia
De um novo amanhecer.”
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