No país dos caramujos, todos rastejam. Não é para menos: o consumo de uma substância pastosa, composta de leite de papoula e barbitúricos, popularmente conhecida como “chope de caramujo”, é habito comum entre os habitantes do planeta gosmento.
Por vezes, um desses seres pegajosos acaba abusando da bebida. Fica estatelado sob o sol até secar por completo. É uma morte lenta, triste, angustiante, porém, indolor. A sensação de anestesia provocada pela substância faz com que a vida de caramujo seja menos intolerável.
Aqueles que (pensam que) conseguem administrar a bebida tomam apenas um ou dois chopes por dia. Em pouco tempo, a concha se desloca do dorso para a barriga. O rastejar fica ainda mais lento. Ao fim da vida, o bebum terá lesões irreversíveis nos órgãos internos, doença conhecida como “cirrose de caramujo”.
Não é este o fim que Lesminha quer para a sua vida. Evita a companhia de caramujos beberrões, pratica exercícios regularmente, especialmente a corrida — esporte raríssimo nesta espécie — e dorme cedo. Nos convívios sociais, bebe água.
Aos poucos, por ser diferente, Lesminha passou a ser rejeitado pelos seus pares. Diziam os caramujos mais intransigentes que não confiavam nele, já que Lesminha não bebe. Afinal, quem não bebe não tem história. Quem não tem história, não tem amigos.
Lesminha hoje vive sozinho e recluso. Mas vive bem, obrigado.
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