Os olhos do Sr. Roberto já não são duas enormes jabuticabas, como D. Flavinha, a sua velha companheira, dizia desde os tempos de namoro no banco da pracinha.
Agora, aos sessenta, os olhos do Sr. Roberto podem ser comparados a duas ameixas secas: murchos, pálpebras caídas e envoltos por assombrosos pés de galinha.
Foi só Sr. Roberto comprar um creme rejuvenescedor na farmácia Caramujo que o seu celular passou a ser bombardeado por propagandas de toda sorte de cosméticos.
“Filtro solar para o rosto na promoção”, disse o SMS.
“Leve um Kit Skincare e ganhe um nécessaire personalizado”, anunciou o WhatsApp.
“Máscara facial testada pela Nasa”, alertou o e-mail.
E até isto:
“Agende agora uma consulta com o Dr. Adalberto Colágeno e venha aproveitar conosco o botox day!”.
Maldito Sr. Roberto que, inocentemente, informou o número do seu CPF para a atendente do caixa da farmácia.
Pior é que ele incidiu nesse mesmo erro no supermercado da esquina, na loja de roupas íntimas e no restaurante do clube, onde todas as tardes bebe uma cerveja, após o futebol dos sessentões.
O curioso é que todos os anúncios caíam para ele como uma luva.
“Batatas Pringles sabor feijão”. Ele comprava, pois havia adquirido um gosto excêntrico, aos sessenta.
“Cuecas ati-assaduras, compre duas e leve três”. Ele comprava, vez que a pele fina da parte interna das coxas também já havia cedido ao peso dos sessenta.
“Almoce conosco e ganhe um voucher para o jantar”. Ele comprava, porque já não aguentava a comida da D. Flavinha aos sessenta anos, sendo quarenta deles, comendo a comida da D. Flavinha.
Senhor Roberto só não esperava pelo anúncio que chegou por SMS, quando ele atravessava a rua, retornando da loja de cuecas.
O estranho anúncio oferecia serviços funerários e produtos tétricos de todos os tipos, como belíssimas urnas de cinzas com detalhes cromados, coroas de flores da época em promoção, velas votivas e até mesmo um gel para disfarçar os odores de putrefação.
Disso ele não precisava, ora bolas! Afinal, os sessenta são os novos cinquenta, e muita vida havia pela frente.
Diante daquele curioso anúncio, Sr. Roberto jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.
Ele quase alcançava a calçada do outro lado da rua, quando um ônibus desgovernado dobrou a esquina e o encontrou.
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