Na mesma manhã em que o blog Mirante publicava a sua milésima história, eu acordava no primeiro dia dos meus 48 anos. Sim, eu e este blog delicioso, mosaico de olhares e estilos tão diversos, festejamos juntos as nossas alegrias. E é justamente para falar de alegria que eu vim aqui hoje. Naquela manhã da semana passada, a partir do momento em que acordei nos meus 48 anos, eu percebi que havia me cansado da melancolia dos últimos tempos. Cansei. Para ser honesta, me exauri de tanta tristeza, tanta doença, tanta dor, tanta falta de dinheiro e tão pouco horizonte. E resolvi que a alegria é uma urgência. Não dá para esperar as coisas ficarem melhores.
“Vou te dar alegria
Eu vou parar de chorar
Eu vou raiar um novo dia
Eu vou sair do fundo do mar
Eu vou sair da beira do abismo
E dançar, e cantar, e dançar
A tristeza é uma forma de egoísmo
Eu vou te dar, eu vou te dar, eu vou”
Adoro essa música de Arnaldo Antunes, mas é na voz de Maria Bethânia que ela melhor cumpre o papel de me tirar da “beira do abismo”. Eu sou paulista e tenho amor por São Paulo, mas a alegria… ah, a alegria é mais baiana! A alegria deixa o coração bater no ritmo dos tambores do Olodum e ela requebra. Meu Deus, como ela requebra!
Acordei na manhã dos meus 48 anos farta dessa angústia que nos cobriu junto com as máscaras que nos tapam o rosto. Despertei exausta de tanta dor, cantada em verso e prosa, e louca para me jogar numa festa daquelas que tocavam muito samba rock, alguma coisa do rock dos anos 80, as mais populares das discotecas dos anos 70 e que, em algum momento, o DJ achava que já era tempo de todo mundo soltar a franga e mandava logo um “YMCA”. Ah, como eu queria uma festa assim para comemorar os meus 48!
As dores seguem e a gente nunca saberá por quanto tempo. A vida dói bastante e quase o tempo todo. Mas, se vocês me dão licença, eu agora vou abrir espaço para a alegria entrar. Pela janela, pelas frestas, pelos poros… por qualquer lugar por onde for possível. A vida vai continuar doendo. Mas é absolutamente urgente se alegrar. Qualquer alegria é bem-vinda. Tenta também, para você ver. Da semana passada para cá, o fardo da vida já está pesando bem menos. A dor não vai passar agora. Nem a sua, nem a minha, nem a de ninguém. Mas já é tempo de abrir passagem para o nosso sorriso, não acham?
Quanto à festa de dancing, estou pensando em deixar marcada para os 50 anos. Sem máscaras. Sem medo. Provavelmente com outras dores. Mas, sem dúvida nenhuma, com muita alegria. Ninguém consegue ser triste enquanto requebra numa pista de dança.
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