De alguma forma, de tempos em tempos, o impacto da natureza tenta se infiltrar em nossa vida. Vivemos o cotidiano de forma relativamente automática até que, de repente, ela se mostra com toda a sua impiedosa força. Desta vez, de forma literal, a infiltração foi através da água.
Água insistente que caiu aos montes em nossas Minas Gerais neste início de ano. Que se fez presente no teto, no chão e nas paredes que permaneceram de pé. Água que trouxe o barro, lembrando-nos da nossa própria matéria, do nosso próprio destino. Dos pés de nossos ídolos e também dos nossos. Água que turvou o reboco branco, assim como as nossas certezas. Água que tanto destruiu.
Diante de sua força, vimos que não somos nada. Diante de sua presença, somos meros navegantes errantes em rasas jangadas.
Que este barro nos humanize e que nos lembre de nossas raízes. Que nos lembre daquilo que nos une e que regula até nosso mais ínfimo suspiro.
Que cuidemos mais uns dos outros e do nosso entorno. E também de nós mesmos, de uma forma mais efetiva, menos auto-indulgente e com mais autoconhecimento. É o que desejo para este 2022 que começou desamparado. Que façamos nosso réveillon tardio e mudemos alguma coisa em prol de sermos melhores, mais conscientes e mais conectados entre nós e com o nosso planeta.
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