Daniela Piroli Cabral
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Já tem um tempo que os prenúncios da adolescência dela nos rondam, vêm anunciando o fim da infância. Em breve ela não será mais a minha criança favorita. As mudanças físicas são imperativas: a forma do corpo, o tamanho dos pés, o estirão, as primeiras espinhas, a mudança do cheiro.
As mudanças no comportamento também são evidentes: argumentos complexos, críticas ácidas, vontades próprias, alguns palavrões e mudanças súbitas de humor. Ela já tem as chaves de casa e recebe a mesada no cartão de crédito. Faz skincare. Quer escolher suas próprias roupas. Sua personalidade anseia por diferenciação, mas não muito.
Há pouco, ela experimentava a identidade gótica, usava preto em cima e embaixo, mesmo debaixo de um calor de quase quarenta graus. Agora, experimenta a fase esotérica espiritualista, me pediu cristais, quartzos, pedras da lua e do sol, incensos e velas de presente de Natal. Constrói seus próprios rituais com eles antes de dormir. É divertido observar a sua expansão.
Outro dia ela me pediu para ir ao shopping com as amigas, queria olhar as coisas na grande loja de departamentos e tomar um lanche no pior fastfood da cidade. Eu disse que ela poderia ir, mas que eu iria também:
– Tá bom, você vai mas fica longe, tá mãe?!
Recebo essa frase como um soco no estômago, mas finjo naturalidade, e, me recompondo, tento retomar minha autoridade:
– Tá bom, mas na hora que eu chamar para ir embora é sem “mas”…
No shopping ela experimenta um conjunto de mini saia e cropped branco que lhe veste muito bem e me pede para levar. Eu comento:
– Ah, filha, essa eu não gostei muito. Vamos olhar outras opções em outra loja?
Ela, toda perspicaz, que me lê pelos cantos dos olhos, retruca:
– Sabe por que você não gostou dessa roupa mãe? Porque você não gosta de me ver crescer.
Outra bofetada na cara, engulo seco e me calo. Inicio o meu luto pela perda da criança unicórnica da cor do arco-íris, recebo a púbere monocromática e saímos com a sacolinha na mão.
Neste processo, tenho tentado me antecipar à vergonha de aparecer na porta da escola, na frente dos colegas. Venho ensinando-a a fazer o trajeto de casa até lá, para que, em breve, ela o faça sozinha.
No percurso a pé mostro faixas de pedestres, fluxos de veículos, ritmos dos semáforos, comércios de referência e mendigos. Conto o tempo no relógio. Ela vai demorar no máximo dez minutos da porta da escola até a porta de casa. Aproveito para comentar:
– Olha que bom, filha. Aos poucos você vai tendo a sua liberdade.
– Liberdade mais ou menos, né, mãe?!
– Como assim, mais ou menos? – questiono assustada.
– Uai, eu tenho que ir direto para a casa…
– E onde você quer ir sozinha depois da aula?
– Ao shopping, mãe.
Respiro fundo e reflito. Parece impossível me preparar para isso. Ela já iniciou a sua trilha e está sempre na minha frente.