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Que feliz ano podemos esperar?

Eduardo de Ávila

Foram inúmeros os votos de paz, sucesso e alegrias no ano que começou no final de semana. Lá nos idos da infância, no meu caso anos 60, era crível imaginar que os bons propósitos tinham o poder de mudar o curso de hábitos que incomodavam nossos dias.

Talvez pela inocência da idade, no embalo de novos tempos, nós, crianças, começámos bem comportados os primeiros momentos de um novo ano. Não consigo precisar quantos dias, por vezes horas, a validade dessa disposição durava. Quem sabe era só um esforço lutando contra a rebeldia? Sei que logo esse encanto passava e tudo voltava à normalidade.

Estou referindo tão e apenas à fantasia daquela idade. Não sei fazer a leitura, nos tempos atuais, se as criancinhas de hoje carregam o mesmo espírito de renovação. Afinal, naqueles tempos e no meu caso, nem televisão existia. As primeiras que chegaram em Araxá – seguramente nem uma dezena – eram disputadas em salas cheias das famílias que abrigavam a vizinhança para ver a tela em preto e branco.

Na minha casa, acho, quando a televisão teve lugar na sala, já tinha superado a sensação de ver Flash Gordon, Perdidos no espaço, Agente 86, Tarzan, A Feiticeira, Túnel do tempo, Batman e até mesmo os faroestes Bonança e Paladino do Oeste. Ainda Zorro, Bat Masterson e tantos outros que me ocorrem e me trazem saudade daquela doce inocência.

Mas, não estou falando dessa nostalgia que ficou pra trás e sim do ano novo e propósitos que, salvo melhor juízo, nem existem mais nos tempos duros e cruéis da atualidade. As primeiras notícias do primeiro dia do ano foram impactantes e tristes. Nem me refiro ao noticiário policial, mas as fortes chuvas que continuam castigando por todo lado. Bahia, Minas Gerais, li agora sobre a cidade de Santa Maria do Itabira. Em menos de um ano de outra situação similar, novamente é castigada pelas fortes correntezas.

A ambição do poder econômico – isso mesmo –, do capitalismo selvagem, é responsável por essa reação da natureza. Não descarto e até creio, inclusive, de um aviso lá do alto. Tem muita gente que diz acreditar nEle, mas age na contramão dos ensinamentos daquilo que dizem ser devotos. São pessoas que chamo aqui neste espaço, já faz tempos, de fake cristãos.

No primeiro dia do ano, tristemente, pude presenciar algo isolado que demonstra o descaso do poder público com as pessoas que mais precisam de assistência. Uma mãe, com o filho passando mal, tentou que fosse atendido numa UPA. Lotada e sem chance, recorreu ao atendimento hospitalar mais próximo. A atendente anunciou o valor de R$ 360,00, isso mesmo trezentos e sessenta reais por uma consulta, avisando que exames seriam à parte.

Desesperada, recorreu a terceiros, até que uma médica que se preparava para assumir o plantão noutro hospital se prontificou em ajudar e resolveu em minutos esse atendimento. Remedinho prescrito e tomado, soube no dia seguinte que o garoto já estava se recuperando e grato por aquela atenção de quem nada tinha com a região e locais já procurados pela mãe e filho. Como bem disse essa mãe depois do desespero, foi Ele quem colocou essa doutora à sua presença. É preciso urgentemente que se reflita sobre esses bons propósitos. Fazer deles, realmente, uma conduta de vida em busca de melhores tempos.

À propósito, vi, exatamente no dia 1º de janeiro, o filme Não olhe para cima”. Interessante para essa necessária reflexão sobre capitalismo, interesse econômico, pobreza, exploração. Vale à pena ver. É uma comédia que se aplica com precisão o conhecido dito popular “seria cômico se não fosse trágico”, onde coincidentemente ou não, retrata o cenário político brasileiro.

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