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Árvore de Natal

Peter Rossi

Na minha cidade, hoje muito mais perto da capital do que um dia foi, ao chegar o final do ano, todos corriam a buscar uma árvore de natal. 

Nossas casas já eram ladeadas por enormes árvores, parecidas com pinheiros. Elas bailavam, costumeiramente, ao sabor dos ventos a desviar das montanhas que cercam o lugar. Vez ou outra, quando bem animadas, chegavam a cantar. Tudo começava com pequenos sussurros e, de repente, dava pra ouvir o lamento daqueles galhos. Lamentos, não! Sorrisos!

Todos ficávamos à espreita e bastava vir o vento forte que a gente corria pro quintal pra ouvir o concerto das casuarinas. Sim, esse era o nome daquelas árvores – casuarinas!

Eram compridas e terminavam invariavelmente numa ponta, partindo de uma base maior, a desenhar no azul do céu um triângulo. Uma árvore de natal prontinha, oferecida pela natureza.

Naqueles tempos não havia a vigília hoje ocorrente e tirar um galho de uma árvore a servir de enfeite não era um mal maior. Essa questão, contudo, não é o que motiva esse relato. Eram épocas outras, com pensamentos e conceitos diversos.

Pois bem, existia um clube chamado Quintas, que no final do seu terreno, a encontrar um barranco, muitas eram as árvores existentes. Íamos nós, meninos, e nossos país, juntamente com um empregado do clube para escolher a nossa árvore de natal.

Quanto mais perfeitinha, retinha, melhor. Poucas aparas seriam necessárias. A gente saia arrastando a pobre coitada da árvore até nossa casa, que não era muito longe dali.

Lá chegando, já estava à sua espera uma lata de tinta. Colocávamos a árvore e, em seguida, pedras para preencher os espaços. Em seguida a areia a complementar tudo. Enrolávamos a lata com papel celofane verde e pronto! Nossa arvore já estava à espera das bolas de natal.

Nossa mãe já providenciava aquelas caixas amarelas, com divisórias internas e dentro de cada uma delas dormia uma bola de natal. Nem todas do mesmo tamanho, afinal a cada natal várias bolinhas se quebravam, invariavelmente.

Quando menino não existiam bolas de natal feitas de plástico, como hoje em dia. Eram todas de um vidro bem fino, quase como um cristal. Um simples descuido e o chão ficava coberto de pedacinhos de vidro. Elas espatifavam!

Os galhos das casuarinas sempre terminam em pontas, como espetos com pequenos pelos verdes, como se árvore a todo tempo renascesse. Em cada ponta, uma daquelas bolas que vez ou noutra caiam, quicavam se espatifavam. 

A gente colocava pequenos flocos de algodão, arrancando com as mãos de uma embalagem como um rocambole, em papel roxo. Jogávamos sobre a árvore e de repente a temperatura caía tanto que começava a nevar. 

O espírito natalino chegava. Eu, particularmente, sempre fiquei nostálgico no natal, nunca gostei muito, apesar dos presentes enrolados em papéis coloridos e das luzinhas. Sempre preferi o Ano Novo, com um vendaval de novidades a encher meus pulmões. 

Árvore pronta a gente colocava então o fio de luzinhas coloridas. Era uma trabalheira só pois os fios ficavam enrolados em caixas de sapatos desde o ano anterior. E, se porventura, alguma lâmpada estivesse queimada, nenhuma das demais acendia, tínhamos que ir testando uma a uma. Uma trabalheira tanta, já disse!

O ato final – colocar uma estrela de papel laminado na cor dourada no topo da árvore. Agora sim, tarefa encerrada! 

Ficava sentado sobre minhas pernas então pequenas a admirar aquela obra de arte que ajudei a construir.

Janelas abertas e os galhos a tremular deixando um cheirinho silvestre pela casa. 

Ainda existem casuarinas na minha pequena cidade, não muitas, mas existem. Sempre que passo por lá, no alto das quintas, bem próximo ao clube de mesmo nome, abro a janela do carro e inspiro com toda força aquele cheirinho de natal da minha infância, a ponto de engasgar de tanta saudade. Que tempo bom aquele!

Minha terra pequena tem histórias, sigo contando cada uma delas, a não perder de vista, como quando o céu encontra o mar. O mar, ali, é verde e montanhoso, mas abriga sereias, as mais bonitas, Anas, Paulas, Marias, Sílvias, todas elas a acariciar nossos sonhos, como a pedir que o tempo eternize as imagens que sempre nos servirão de palco. Nós, extasiados, vemos a vida passar em cinemascope frente aos olhos e só perdemos uma ou outra passagem quando temos que enxugar aquelas lágrimas que sempre insistem em cair.

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