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A criança teimosa e o Papai Noel

Reprodução/Pixabay

“Papai Noel não existe”. Foi o que Rafael contou ao irmão mais novo, Guga, que fez aquela cara de desconfiado e devolveu ao irmão, apontando para a enorme árvore de Natal, no centro da sala: “Então quem é que deixou esses presentes aí?”.

“O papai, ué”, respondeu Rafael. “Mas não o Noel. Foi o nosso papai, magrinho, desbarbado e carrancudo, que comprou”.

“Não foi, não”, rebateu o menino mais novo. “O papai não compraria um presente deste tamanho. Foi o Papai Noel… e eu vou te provar”.

Dez para meia-noite, antevéspera de Natal, e os dois irmãos estão sentados no sofá da sala, comendo biscoitos recheados e esperando a verdade se revelar diante de seus olhos. Então Guga começou, baixinho, para não acordar os pais:

“Quando o relógio bater meia-noite, ele vai chegar. Eu vi naquele livro preto do papai, com a estrela do cinco pontas desenhada na capa. O Papai Noel vai chegar à meia-noite. Ele é velho, enrugado e mau. E quer saber mais? O que ele carrega no saco não são presentes. São crianças teimosas, que ele dá de comer às renas raivosas”.

Com essas palavras, bang! o relógio da sala bateu meia-noite.

“Eu não disse?”, falou Rafael. “Deu a hora e nada de Papai Noel, nem de renas raivosas. Eu vou dormir”.

Quando ele se levantou do sofá, os galhos da árvore de Natal se balançaram.

“É ele! É ele!”, cochichou Guga, vendo o irmão ir em direção ao barulho. “Ei, espera aí! Aonde você vai?”. Guga tentou segurá-lo, mas era tarde demais. Rafael já estava muito perto da árvore, que agora estava semicoberta por uma penumbra.

“Papai Noel, seu velho pestilento, você veio buscar o meu irmãozinho medroso? Então é melhor você sair logo daí!”, falou Rafael, antes de desaparecer na sombra da árvore.

De repente, a sala ficou silenciosa e ainda mais sombria.

“Mano?”, chamou Guga. “Volte aqui, não é hora de brincadeiras. Senão eu vou chamar o papai!”.

Mais silêncio.

Então Guga soltou um grito, e um minuto depois o pai e a mãe estavam de pé na frente dele, feito dois zumbis.

“Mas o que é que você está fazendo acordado?”, perguntou o pai?

“É o Rafael! Ele se escondeu atrás da árvore e está tentando me assustar”.

“Mas não tem nada aqui”, disse a mãe, dando a volta na árvore de Natal. “Onde está o seu irmão”?

Essa resposta demorou três anos, onze meses e quinze dias para ser respondida nas páginas de “O Noticiário”. Segundo o jornal, a ossada de Rafael foi encontrada na região montanhosa da Lapônia, em um longínquo povoado do Polo Norte. Até hoje as autoridades não souberam informar como os restos mortais da criança foram parar ali. Tudo o que sabem é que parte dos ossos havia sido estilhaçada, provavelmente, pela bocada de um animal selvagem.

Guilherme Scarpellini

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Guilherme Scarpellini
Tags: NatalTerror

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