Dia 08 de dezembro de 2021, em Cumuruxatiba, Sul da Bahia. Acordamos com uma tempestade fora do comum. O céu estalava com raios que iluminavam a noite, acompanhados de trovões e muita água. O vento assobiava e jogava os galhos das árvores de um lado para o outro. Foi muita água e vento. Nada se podia fazer senão dormir.
Pela manhã a questão estava posta: o que houve? Alguém desabrigado? E a chuva continuava… Percorri a vila de pescadores que conta com sete mil habitantes e pude ver os estragos. A ponte do rio que corta o centrinho de Cumuru foi levada pelas águas; muita erosão na beira da praia e os quatro rios que desaguam no mar haviam transbordado, inundando casas.
Já bem cedo os grupos de WhatsApp da comunidade informavam o que estava acontecendo. Um ciclone extratropical havia se formado no Oceano Atlântico e estávamos em sua rota. E, cedinho também, as pessoas já articulavam solicitações de alimentos, água, colchões e demais donativos para os desabrigados. A Associação dos Pescadores foi base para o recolhimento. As escolas cancelaram as aulas para receberem quem ficou sem casa. E a chuva continuava… Soubemos com tristeza que nossas cidades vizinhas estavam com casas debaixo d’água.
Estávamos ilhados porque os rios foram levando estradas e pontes. O dia segue com helicópteros pousando a dois quarteirões de minha casa para pegar pacientes de hemodiálise e grávidas. Ele traz alimentos também.
Foram quatro dias de chuva incessante. No sábado o sol aparece para secar as roupas. A comunidade não parou em momento algum. Os serviços essenciais se mantiveram e os mercados também funcionavam. Não escutei lamentos, ouvi aceitação com relação aos fenômenos da natureza e muita garra para acolher e/ou ajudar aqueles que estavam precisando e, para manter o funcionamento das atividades. E a vida foi retornando ao seu ritmo sábado e domingo, com os grupos de samba já tocando na Casa de Minas e Barraca Porto Belo.
Caminhando pela Praia dos Pescadores encontrei o Seu Binga tecendo uma de suas cinquenta redes de pesca. Sempre o vejo na tecelagem por ali e resolvi puxar uma prosa. Ele me conta que não pesca mais, que começou a pescar com seus doze anos de idade e agora, com mais de sessenta, parou, mas mantém as redes com que os outros pescam; tem sempre mais uma para reparo. Sigo vendo o ritmo da praia que é de pescadores tirando água de seus barcos, alguns oferecendo lagosta para comprar, turistas e moradores caminhando pela areia que ainda está com muito material que os rios despejaram no mar.
O mar? Virou rio por aqui. Até onde a vista alcança ele está com a cor de rio e conforme Seu Binga a água está doce. E com a vida voltando ao normal por aqui, sabe o que esperamos? É que não tenha essa coisa extra. Fora ciclone extratropical! Aqui é Sul da Bahia e que sua rota nunca mais passe por nossas águas.
Não posso terminar o texto sem agradecer a solidariedade da comunidade de Cumuruxatiba e desejar que nossos vizinhos também fiquem bem.
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