Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2021
Caro Michael,
Mal posso dizer da felicidade que é receber novamente um escrito seu. Peço perdão por não ter respondido o primeiro, as coisas aqui andam, no mínimo, estranhas… Nada que você não tenha conhecimento ou que seja totalmente novo.
Ao seu pedido, caminhei novamente por aquela ruela com uma loja de alfaiataria na esquina. Os tecidos de lá possuem um cheiro tão bom, único. Dessa vez me demorei mais do que as outras. Não vou negar que experimentei uma peça ou duas, mas nada levei. Ainda ando com os resquícios de covardia que o tempo me marcou. Quem sabe em uma próxima? Tentarei passar por lá mais vezes, as vendedoras me prometeram que as peças de verão estarão um arraso.
Fiquei muito contente em ler sobre as suas descobertas e percepções de que as coisas são o que são. Sem sombras, sem manifestos, sem nada. Nós fazemos as prosas que iluminam e deixam maquiadas as noites de lua cheia que são, em mais nada, noites de lua cheia. O astro, assim como todas as coisas, posa para os olhos humanos, que sem nada para fazer, cantam sobre o ordinário. Isso me lembrou de duas coisas: um poema, de quem não me recordo a autoria, que diz: “o amor é tudo aquilo que dissemos que não era”; e uma foto do filme Crepúsculo que rodou esses dias pelas redes sociais, sem o característico filtro azul do filme. Crepúsculo seria Crepúsculo, um sucesso de décadas, sem o filtro azul? O amor seria o amor, um sucesso de milênios, sem que o negássemos em todas as oportunidades?
Querido Michael, sinto a sua falta. Nas pequenas coisas. Não é como se você estivesse longe, mas que eu e todas as alternativas que tentamos continuassem a nos levar a lugar nenhum.
Do fundo do meu coração, espero que seus dias sem culpa se prolonguem pela eternidade.
Com amor,
Helena.
Pintura: Anne Magill
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