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Memórias infantis

Sandra Belchiolina de Castro
sandra@arteyvida.com.br

Uma varinha de condão aparece em minha vida e como num passe de mágica me remete a doces memórias. Ela tocou-me na noite de domingo passado, quando voltava da praia em direção a minha casa no Sul da Bahia, na vila de pescadores que tem o poético nome de Cumuruxatiba. Na pracinha da vila estava acontecendo a apresentação de um circo, conforme informações que circulavam. E, passando por ali…

Tive o privilégio de passar minha infância no interior de Minas Gerais, em Lagoa da Prata. Cidade na época com poucos habitantes. O melhor evento que ocorria eram os circos que chegavam de tempos em tempos. E, ainda melhor, se alocavam na esquina de minha casa. Assim acompanhei suas chegadas e despedidas desde as memórias mais antigas que tenho, talvez na época com cinco ou seis anos de idade, até minha adolescência. 

Nominar o encanto maior que minha criança via naquela movimentação é difícil. Desde as chegada das jaulas com animais na época, uma excentricidade sem a consciência do sacrifício para os bichinhos, a montagens de suas tendas e a vida que acontecia além do espetáculo. Ver leões, tigres, gorilas, macacos, cães e elefantes fazendo suas graças era literalmente de outro mundo, ou melhor, do mundo da fantasia. A curiosidade passava por ver aquele povo diferente – anões, homens e mulheres elásticos, mágicos, malabaristas, “homens do globo da morte”.

Os casais e familiares eram outra curiosidade, como viviam? Que vida é essa cigana? Tentava espiar esse dia-a-dia que passava do acampamento à disciplina dos treinos de homens, mulheres e animais. E também havia a vida da família circense e família parental – papai/mamãe e filhinhos. Essa ficou na imaginação, pois o que nos era permitido, era espiar. O encantamento passava também pelos jovens homens com sua força, ou no trapézio ou nas valentias de virar em motos de cabeça para baixo, ou com os riscos de serem atacados pelos animais. Enfim, alguns invadiam mais minha imaginação e também me punham a sonhar com eles.

A chegada do dia da estreia era o máximo. O show ia começar e ali presentes, também, estavam as inesquecíveis balas chupa-chupa no formato de sombrinha, as maçãs do amor e pipocas doces e salgadas. Um deleite para uma criança.

Passados tantos anos ainda tenho a imagem da lona levantando e o ruído do circo em mim é despertado novamente ao ver um palhaço na pracinha de um lugar bucólico.

Seguindo para casa, um menino com seus nove anos de idade, em sua bicicleta, esperando algo, pergunta-me: 

– É verdade que tem circo na praça?

Respondo: – É verdade sim, senhor!

Seu olhinho brilha e ele berra para mãe que está dentro da casa.

– Mãe é verdade que tem circo na praça.

Pensando bem, o que eu mais gostava era de toda aquela excentricidade na beira de minha casa. Sigo meu caminho na fantasia circense….

*
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