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Todo mundo é um

Daniela Mata Machado

“E tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é”

Eu estava aqui, ouvindo a canção do Emicida – como eu adoro esse cara! – e vendo as notícias sobre a variante Ômicron, esse novo capítulo de uma pandemia estilo Sexta-Feira 13 (a série de filmes de terror dos anos 80), que toda hora parece que já foi, mas volta outra vez. Quando a notícia do vírus chegou, em março de 2020, eu fui uma daquelas pessoas que pensou que tudo isso era um recado do universo para a gente entender que estava fazendo tudo errado. Ainda sou essa pessoa, acho. Só que naquela época eu tinha mais esperança e agora… 

“Se for pra crer num terreno
Só no que nós ‘tá vendo memo
Resumo do plano é baixo, pequeno e mundano
Sujo, inferno e veneno
Frio, inverno e sereno
Repressão e regressão”

Botaram um planisfério no jornal da GloboNews que era um resumo do erro. O desenho da lição que o universo parecia querer ensinar e a gente não aprendeu. Vacinaram o mundo inteiro e deixaram a África de fora. É o que a gente sempre faz, não é? A gente sempre deixa a África de fora. A gente sempre deixa alguém de fora para garantir os nossos privilégios. A gente sempre fecha os olhos para a dor que não é a nossa, porque, enquanto o outro se dói, a dor dele garante que essas nossas regalias sejam ainda maiores. Ele se dói para que a gente não se doa, não é isso?

Pois, quer saber? Se o universo insistir no recado que está tentando dar desde março de 2020, não vai ser isso não. A Ômicron já não está restrita à África. As vacinas aplicadas largamente fora da África parecem não resolver o problema de quem agora recebe o vírus desse lugar relegado ao status de segunda classe, para onde as vacinas não foram enviadas.

“E eu voltei pra acabar tipo infarto
Depois fazer renascer, estilo parto
Eu me refaço, fato, descarto
De pé no chão, homem comum
Se a benção vem a mim, reparto
Invado cela, sala, quarto
Rodeio o globo, hoje ‘to certo
De que todo mundo é um”

Lá atrás, no início de tudo, quando a gente estava preso dentro de casa, descobrindo o tal de home office e fazendo pão nas horas vagas, eu acreditava muito que a gente logo ia entender que lugar que não é bom para todo mundo acaba não sendo bom para ninguém. A cada dia que passa, tenho mais certeza de que, no macro e no micro, a gente ainda não entendeu nada disso. Mas pode ser que ainda entenda.

“Tudo, tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é
Tudo, tudo, tudo que nós tem é nós
Tudo, tudo, tudo que nós tem é”

*
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