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Maria Gadu

Peter Rossi

Me peguei aqui assistindo um programa de música, sobre música, em que crianças fazem performances, cada uma melhor e maior que a outra. Vindo desses tímidos pulmões, ainda tenros e meninos, sobressaem suspiros que alcançam nossa alma. Como a música é boa! Como ouvir música é bom! Nessas horas aplaudir é desfraldar o coração no varal da nossa esperança. O mundo sempre é melhor quando a gente escuta. Ahh, a música, essa nossa rede a descansar e, com os olhos fechados, observar o mundo.

E a gente abraça o violão, como se fosse o corpo da mulher amada, e tilintando os dedos em cada corda, imagina cada curva. Pega o violino e beija o pescoço, aninha o nariz sobre os cachos de cabelo da namorada, a jovem namorada.

Daí, a música parte e pega a sanfona e, além de abrir um grande sorriso, torce num abraço. A sanfona é mãe. Ela abraça e alcança. A sanfona nos alcança, e nos abraça em enormes semitons. O moço aperta as teclas e a gente entende que o mundo é cada vez melhor. E, depois disso, vem as peles, a bateria, as caixas que suportam as baquetas a escolher as melhores sinfonias. A música para, e a as caixas rugem: ninguém pode sequer pensar em parar. O batido dos batidos é o que norteia as pernas desconfortáveis que não se acostumaram com os ritmos. Ritmos? São cordas, em escalas cibernéticas, às vezes sintéticas, porém sempre audíveis, imóveis. Música é ouvir Maria Gadu, mesmo no silêncio da sua voz. Sua respiração ofegante nas notas descansa nossa ansiedade em saber o que vem depois. E depois vem sempre o tempo melhor, amparado nos timbres suaves e fortes, guerreiros conta a tristeza. Gadu é guerreira contra o contratempo, contra o infeliz momento em imaginar que a vida não é boa. Mas ela é sempre é boa! Basta deixar o pensamento ao alvedrio do acaso e, sem mirar a distância do fundo, sentir que o mundo é breve, como um floco de neve, a desvanecer na pele do nosso sofrimento. Gadu foi chuva, sem espaço, numa vida apertada, mas acomodou minha alma. Ela me mostrou, jovem, menina, que a chuva é jeito bom de se deixar viver

Gosto de você, de sua voz, da sua música. Do seu interruptor entre o que é côncavo e o que não é. Senti o seu gosto, Gadu, e me deixo viver, como diz a música.

Não para, eu te peço. Vibra essa garganta sem qualquer conceito além do preconceito. Você me ensinou que uma gota de chuva pode ser o melhor beijo. Aqui em Minas a gente sente como um pedaço de queijo. Mas nada é melhor que sonhar, Milton já nos ensinou. 

Você acalenta essa minha idade avançada e me faz ver que não sou um velho cibernético e desvirtuado, apenas passei algumas décadas, mas mantenho os ouvidos limpos, mantenho os olhos acesos, e o coração acelerado, como sempre deve ser. Se assim não for, não vale a pena. Gadu, obrigado pela música, a música que sobressai dos seus olhos e povoa a minha alma, que brota da sua garganta e me faz entender que sou inteiro, próximo, vivo e, sobretudo, feliz!

Te dou agora a linda rosa que você cantou tão lindamente. Te amo, com todos os dentes que o meu coração pode deixar transparecer. Não escolhi inconsciente. Te ouvi, apaixonei! Em cada acorde, em cada ingenuidade de não imaginar que é conosco, a moça de sorriso aberto, de olhar esperto que tentou e com certeza me faz muito feliz! 

Valeu!

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