Quando pequeno, na minha cidade natal, toda moeda que sobrava tinha o mesmo destino: comprar uma caixinha da sorte. Eram caixas, via de regra, amarelas e o seu conteúdo inesperado. Algumas vezes eram anéis de plástico, outras um simples bonequinho. Mas a ansiedade de menino ao pegar cada uma delas, dar uma chacoalhada para tentar imaginar o que tinha dentro era inesquecível.
Numa garagem, um pequeno homem se escondia atrás do baleiro. Era o “seu” Cardoso, do alto do seu metro e cinquenta. Franzino, mas sempre gentil. Me deixava experimentar cada caixinha. E, curioso, partilhava da minha felicidade ao descobrir alguma coisa nova.
Como era bom receber a felicidade em caixinhas de papel, do tamanho daquelas de fósforo, mas que tinham um poder incendiário maior, elas aqueciam a nossa alma de menino. Não sabíamos o quanto representava uma moeda, tínhamos apenas a certeza de que encontraríamos a nossa sorte ali.
E encontrávamos mesmo! Naqueles tempos a felicidade vinha embrulhada em caixinhas de papelão. Ou a gente perdeu a lente, ou o mundo se esqueceu de que era muito simples ser feliz.
Enfim, ficam essas recordações, que nunca se perdem. Essas memórias, nossas eternas namoradas. De braços dados caminhamos pela nossa história e não nos cansamos de lembrar de nossos beijos de amor nas bochechas da vida!
Beijos de meninos, tímidos, mas sinceros e sentidos! Beijei a vida tantas vezes que ela acabou por se apaixonar por mim. E, juntos, íamos a chacoalhar novas caixinhas da sorte, simplesmente porque tinha que ser assim.
Entre um contorno e outro, do zigue-zague das ruas da minha infância, deixamos cair, numa curva e outra, aquele retrato em que estávamos com os dentes à mostra, explodindo no papel da foto todos os brilhos que nossos olhos podiam ter.
Como é bom lembrar desses momentos, daqueles momentos, de tudo isso, de tudo aquilo. Viver é sempre tentar abrir uma nova caixinha da sorte.
Hoje, mais velho, não vejo mais a venda do “seu” Cardoso, embora saiba que sempre esteve no mesmo lugar. Subindo aquela ladeira, no meio da curva, diviso a minha saudade, visito minha essência e não consigo parar de pensar o quanto fui feliz. Talvez porque tenha tido a oportunidade de abrir uma caixinha da sorte. E ela, após aberta, não se fecha jamais. O brilho que dali emana preenche nosso coração e nos inunda de paz!
Tadeu Duarte tadeu.ufmg@gmail.com Toda família brasileira tem seu Tio do Pavê. Aquele tio bonachão, ressentido…
Peter Rossi A pandemia, embora ainda recente, já “comemora” quatro ou cinco anos. Muitas mudanças…
Wander Aguiar Em 2019 decidi que faria um dos trajetos do Caminho de Santiago de…
Leonardo Paixão Era uma terça-feira, dia pouco especial. Daqueles que lentamente somem da memória. De…
Sandra Belchiolina Essa é a introdução da música “O Sol”, da banda Jota Quest. A…
Daniela Piroli Cabral danielapirolicabral@gmail.com Ultimamente, tenho me interessado muito pelo campo das palavras e sobre…