As árvores remanescentes de Belo Horizonte, neste girar anual do sol, se produziram a altura de queens, e, como tal, acabaram por performar como quem performa para uma plateia embriagada, ensaiando monólogos sobre a vida para aqueles que procuram gotas perdidas nas bordas em ondas dos copos lagoinha.
As flores, proclamando suas frases decoradas em azul, violeta e amarelo, não receberam aplausos, muito menos posaram em enquadramentos pixelados para lentes de câmeras com resolução ruim.
Suas pétalas, ao invés de se prenderem aos para-brisas dos carros ou serem recolhidas por crianças, foram direto ao encontro do chão, e, sem o terceiro cavalheiro para lhe estender a mão, permaneceram ali, sem direito a serem temas de canções de ninar.
Não ouviram os suspiros distraídos de motociclistas que levantam o olhar do seu “endereço de entrega” só para provar, mais uma vez – e para si mesmo – que ainda há humanidade nisso tudo.
Tal qual uma performista se transveste de pele no dia seguinte, elas se despiram em silêncio. O espetáculo de sons, que contou com a participação especial de um vento gélido ao final da tarde, não conseguiu levantar fundos nem para pagar seus próprios artistas.
Na vaidade dos corpos nus em cores tingidas, os troncos – ainda – se contorcem no estreito espaço de terra destinado a eles – um presente especial da bondade do ego – na Avenida Brasil.
Imparciais ao show de horrores encenado por bonequinhos de dois braços e pernas, eles se impõem como um discurso de liberdade e vingança se sustenta em 140 caracteres.
A primavera acabou, e como um romance de rostos no escuro, não deixou rastros. Na cabeça dos amantes, os toques foram fantasiados, os sussurros um mero deleite do compromisso. Se houve declarações de amor, ninguém se lembrará delas. Na rua, passarão um pelo outro, e, como completos estranhos, esperarão uma nova rotação para se realinhar.
Pintura: Flores ainda vivas (1614) Pintor: Ambrosius Bosschaert
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