O peregrino sobre o mar de névoa, de Caspar David Friedrich, (1817-1818).
No meio da Terra, onde um continente um dia se despediu do outro, reina um olho azul. Gigante, como eles sempre são, seduzem qualquer um que queira se afogar a título de beleza.
Todo mundo sabe que todo olho azul é assim. Infindável, sem limites, sem ter onde se segurar nem a outras cores para recorrer. Se debate violentamente na areia ou nas bordas brancas de cílios nus. Desesperado, mas imponente. Você nunca vai ouvir um olho azul pedindo socorro. Mesmo se estiver bem perto. Mesmo se a pupila se contrair como uma onda voltando ao seu estado original de plenitude.
Todo mundo fala que todo olho azul é minoria. Que não são encontrados com facilidade. Que quem tem a oportunidade de contemplação, o faz com um ar de dono-do-mundo. Não é para menos. É muito alto o preço de se observar o infinito.
Todo olho azul, quando vem, leva tudo o que todo mundo tem. Para minha sorte, no último sussurro do Deus silencioso, eu vi. Vi como quem vê o que não se estava procurando. Vi como quem deixa escapar um lampejo de (des)presença.
E no último segundo de consciência, eu vi os olhos azuis que estive sempre procurando. Naquele lugar de sabedoria, no espaço menor entre a terra seca e a espuma, transcendi. Não escutei mais meus pensamentos. Só consegui emendar que: “eu vi você antes que me visse, e isso me permitiu admirar.” Admirei.
Pintura: O peregrino sobre o mar de névoa, de Caspar David Friedrich, (1817-1818).
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