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Plagiando Veríssimo, o resto é silêncio

Daniela Mata Machado

Houve um tempo em que eu era melhor com as palavras. Com elas eu organizava o mundo, as coisas, as pessoas, os lugares… e até as confusões em que me metia. Agora não. Tenho fugido das palavras. Andei brigando com elas. Quando via, tinha sido nocauteada por uma frase fora de lugar, levado um tapa de uma citação fora de contexto ou sido atingida no queixo por letras que saíam por aí, como se tivessem vida própria. Eu já me curei pela palavra, mas ultimamente só o silêncio parece acolher minhas dores. É estranho para alguém que se formou em jornalismo e durante anos trabalhou em redação de jornal. Mas é precisamente o que tem acontecido.

Agora mesmo, diante deste teclado, estou aqui enfileirando letras e não vejo absolutamente nenhum sentido no que digo. Pode ser que apague tudo e fique novamente olhando para a tela em branco. Eu tinha pavor da tela em branco. Hoje ela é basicamente o meu lugar de refúgio. Posso apagar tudo e ficar apenas olhando para ela, sem a menor necessidade de preenchê-la com o que quer que seja.

Um dia me disseram que nós nos engasgávamos com as palavras não ditas. Então, busquei dizer. Disse tudo. Até me esvaziar e ficar observando aquela verborragia em letras de sangue, derramadas no meio da rua, à frente de todos os que jamais fizeram ideia da dor que quedava, incômoda e indigesta, diante dos seus olhos. Me fiz aridamente verborrágica à vista de uma multidão que não podia ver mais que o lado feio e nauseante de todos os meus ditos. Eu vomitava nos pés dos passantes todo o anteriormente não dito com o qual não queria mais me engasgar. 

Até que não houve mais palavras. Não houve mais engasgo. Nem a audiência irritada para o meu falatório. Sobrou o silêncio. Intenso. Vazio. Potente. Pulsante. E eu não me sinto mal de ter perdido o jeito com as palavras. Vez em quando elas saem por aí, ganhando vida. Como agora, quando decidiram, por sua própria conta e risco, preencher a minha reconfortante página em branco com um discurso que provavelmente não faz sentido nenhum. Tudo bem. Nenhum discurso faz tanto sentido. O silêncio faz. O silêncio que sobra quando não há mais nenhuma palavra presa na garganta é a coisa mais plena de sentido que já experimentei.

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