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Com conhecimento de causa

Com conhecimento de causa – Foto: Pixabay
Márcio Magno Passos

Viviane, minha filha então com quase treze anos, entrou decidida no carro. Bateu a porta, jogou a mochila no banco de trás e falou sem meias palavras:

Pai, vamos ter uma conversa séria agora.

– Qual o problema, filha? Pode contar comigo.

– O problema não é comigo, pai.

Com quem então?

É com você.

Comigo? Qual é o meu problema?

Precisamos conversar sério sobre este seu regime.

O que é que tem o meu regime?

Li na sua coluna do jornal que você emagreceu seis quilos em um mês e quero saber qual dieta você está fazendo…

Uai, diminuí a comida e estou fazendo exercícios.

Qual médico receitou?

Conversei com um médico amigo meu.

Te conheço, pai. Você está fazendo dieta da sua cabeça e, como sempre, exagerando na dose. Aposto que você não está comendo nada pela manhã, só almoça legumes e bife de frango e passa o resto do dia com duas maçãs e quatro biscoitos de água e sal. E se o médico recomendou uma hora de caminhada, você deve estar caminhando umas duas…

Não exagera, filha.

Pai, eu vou te falar com conhecimento de causa. A dieta tem que ser balanceada, considerando que o nosso organismo precisa de carboidratos, vitaminas, fibras, sais, cálcio e outros nutrientes importantes para a nossa saúde. E exagero na sua idade é um perigo…

Por acaso você sabe quantos anos eu tenho para vir me chamar de velho?

Sei. São 47 anos e não estou chamando ninguém de velho. Apenas alertando para o seu bem. E estou falando com conhecimento de causa…

Filha, quem te falou essas coisas?

Aprendi lá na escola, na Feira de Ciências.

Então tá. Pode deixar que mudarei minha dieta.

Pai e filha desceram do carro e entraram num restaurante. Ela, como sempre, comeu duas colheres de arroz, duas de espaguete, batata frita e salaminho. O pai, que das outras vezes bronqueara, fez de conta que não viu. Afinal, ele comera apenas bife de frango com salada. E ela não percebera ou desistira de falar com conhecimento de causa.

No dia seguinte, o pai ajustou a dieta para evitar problemas e ficar com a consciência tranquila. Acrescentou um copo de suco de berinjela pela manhã, incluiu duas colheres de arroz no almoço de sábado e reduziu a caminhada para uma hora e meia, com mais quinze minutos de ginástica adotada pela Força Aérea Americana. Emagreceu mais um quilo e meio. Mas não tira da cabeça aquela picanha de carne de sol de Bocaiúva, o empadão de Madeleine e aquela cerveja gelada na geladeira. Que sacrifício…

*
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