Sexta-feira passada recebi a notícia de que nesta semana – mais precisamente na quarta-feira – eu tomaria a primeira dose da vacina contra o coronavírus. Naquele momento eu dividia espaço com mais gente do que a física deveria permitir. O ônibus estava mais do que lotado, e a moça sentada do meu lado, exausta, aposto, dormia como se mais nada na vida fizesse sentido. Eu mesma tentei dar uns cochilos durante a longa viagem entre os municípios de Belo Horizonte e Contagem, que ficou ainda mais longa depois que a constância das rotas foram reduzidas ao “horário COVID-19”.
Não consigo descrever qual sensação tomou conta de mim primeiro. A tristeza, em saber que meus amigos e irmão millennials ainda não estariam imunizados dividiu espaço com o alívio que uma colega de trabalho me alertou que sentiria assim que fosse imunizada. “Você vai ver”, ela afirmou. Do ponto de ônibus até a minha casa, fiquei imaginando qual look poderia escolher para o “grande dia”. Que eu jurava que nunca chegaria. Para o meu coração fraco, bastou uma publicação no Instagram da Prefeitura de Contagem, com o calendário de vacinação por idade, para que tudo parecesse de volta aos trilhos.
Quando cheguei em casa, no êxtase da possibilidade e na expectativa da dúvida, tomei banho cantando “eu vou tomar a minha vacina, finalmente!”. Com a água caindo, pensei nos últimos 510 dias. Desde o primeiro, quando a notícia do vírus se espalhou e eu estava com a minha avó no Felício Rocho, com suspeita daquilo que ninguém sabia dizer ao certo o que seria. Pensei na vez que eu saí gritando pela casa, dizendo “eu não aguento mais” e não era nem o dia 200. A partir de quarta, eu começo uma nova contagem. A depender do imunizante que vou tomar, de 15 ou 90 dias. Mas tenho certeza que será mais leve, ou se não, menos eterna do que as outras que fomos obrigados a fazer.
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