Guilherme Scarpellini
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Antes, quando não havia o que falar, falava-se sobre o tempo. Quente, não?, o motorista dizia olhando o passageiro no retrovisor. Será que chove hoje?, o vizinho puxava assunto no elevador. Hoje, o tempo mudou. Ele ocupa a ordem do dia, dos pensamentos e dos nossos comportamentos. Afinal, o tempo tornou-se tão relevante quanto o próprio ar que respiramos — que, a propósito, está 1ºC mais quente.
Na última semana, a ONU divulgou relatório do clima, subscrito por 234 cientistas, de 65 países, em um calhamaço de folhas, que pode ser resumido em uma palavra: fodeu!
É que a crise climática já é irreversível. Daqui adiante, estaremos condenados a períodos prolongados de secas, tempestades violentas, temperaturas extremas e, claro, tudo em meio ao bacanal climático que já vivenciamos: neve no Brasil, fogo na Sibéria, calor no Canadá.
Foi bonito ouvir as pessoas dizendo que acreditavam na ciência e que a vacinação salvava vidas. Pois é chegada a hora de separar os arroubos momentâneos da conversa de gente grande. Quem é que vai apagar a luz ao sair do quarto? Quem vai reduzir o consumo de carne? Quem vai a pé ou de bicicleta?
O voto nas urnas — eletrônicas, porque o papel, além de fraudável, é antiecológico — tem de ser verde daqui adiante. Seja nas esferas municipal, estadual ou federal, seja na eleição de síndico do condomínio. Para se ocupar de um cargo eletivo, o sujeito tem de levantar a bandeira verde. É inadmissível pararmos para discutir o quão idiota é o Sérgio Reis, enquanto há um projeto de destruição das florestas em andamento no país.
Acabamos de experimentar o gostinho do apocalipse, quando um micro-organismo pôs em xeque as nossas vidas e a sociedade como a conhecíamos. Ao contrário do vírus, a natureza maltratada não é invisível, silenciosa e tampouco controlável. O planeta está no limite, e o limite é agora. Precisamos falar sobre o tempo.