Roda de Viola em Ipoema, Minas Gerais, numa dessas noites de lua cheia, outubro do ano e da graça de 2016. As lavadeiras acenderam a fogueira e dançaram, quando a viola começou a chorar e sorrir com os clássicos da música caipira brasileira. Os mais afoitos correram à pista, enquanto outros ensaiavam entrar no jogo com visível timidez. Os casais se ajuntando ou se formando e ela, impávida, à beira da pista.
Dançava preto com branca, branco com preta, velho com nova e novo com velha, mulher com mulher e só não tinha homem com homem porque lá é terra de macho, pelo menos nas manifestações públicas. Longos e lisos cabelos pretos acima da altura da cintura, blusa branca com detalhes pretos e calça preta sem detalhes brancos. Altiva, olhar indefinido, batom aplicado com técnica profissional de ponta a ponta da boca. Impávida, lá estava ela.
De onde teria vindo? Dos rincões sertanejos ipoemenses ou do centro do distrito mesmo? Quem sabe seria uma forasteira hospedada na pousada Quadrado? Quem era aquela moça mulher?
Ela continuava impávida à beira pista quando um senhor aparentando o triplo da sua idade a chamou para dançar. E ela foi. E dançou perfeitamente bem. Rostos vinte centímetros distantes, ela não errou um passo sequer. Mas não olhou na cara do parceiro, não sorriu, não piscou os olhos. Impávida, altiva, indiferente. Ela, só ela no mundo dela, com alguém a conduzindo, apenas a conduzindo porque na dança de casal é necessária e ela o quis. Terminada a dança ela não olhou na cara do parceiro, se virou e permaneceu no mesmo lugar.
Apareceu um jovem de camisa xadrez de manga comprida e cinto de gente que gosta de rodeio. Chamou para dançar e ela aceitou com a mesma indiferença do convite anterior. Dançou impávida, de novo. Ele cantou a música toda, aparentemente no tom. Ela não moveu um músculo do rosto, não olhou seu condutor na dança, não errou um passo e não saiu do lugar quando a música terminou. Apenas virou-se de costas.
Aí apareceu o terceiro. Um senhor bem mais velho que este, mas não tão velho quanto o primeiro. Cabelos cheios e cacheados, meio pretos e meio brancos, ele sorria o tempo todo e rodopiava como nenhum dos outros. Ela continuou um retrato. Impávida, imexível, insensível, inalterada. Como das outras vezes, nenhuma palavra. Terminada a música ela não parou no mesmo lugar. Retirou-se para o jardim e ficou, impávida, olhando ao redor. Parecia procurar alguém que não encontrou. Insistiu, mas nada. Ficou ali por um bom tempo, sem se alterar, sem sorrir, batom irretocável e impassível, como se aquele mundo não fosse dela.
Pensei ir lá e perguntar seu nome. Saber sua história. Tentar entender sua impavidez naquela noite e a indiferença diante daqueles que lhe fizeram par, pelo menos para a dança. Mas ela sumiu no meio da multidão. Talvez voltou para onde veio. Ou caiu nos braços que tanto procurava sem alterar um músculo do seu rosto. Impávida e indiferente, deixou meu texto assim. Sem fim…
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