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Guilherme Scarpellini
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Era a hora mais escura da madrugada quando um grupo de homens escalam os muros altos da casa. Disfarçados de oficiais da agência americana antidrogas (DEA, na sigla em inglês), eles são mercenários, treinados pelas forças armadas dos Estados Unidos e com uma missão: matar o presidente.

Dentro da casa, um dos mercenários se depara com a primeira-dama e a filha do casal. Enquanto a mulher é alvejada no peito, a criança foge, despercebida, para o quarto. É no escritório que os invasores encontram o alvo. O presidente recebe quatorze tiros.

Após a chegada da polícia, há troca de tiros. Dois mercenários são mortos, alguns, presos, e outros vão se refugiar em uma embaixada.

A notícia se espalha rápido. E com ela, as dúvidas. Quem mandou matar o presidente? O que será do futuro do país? Quem será o próximo a morrer?

A população cobra respostas das autoridades. O primeiro-ministro vai para a televisão. “O controle do país está retomado, e a população não tem o que temer”, garante o premiê.

Premiê este que, horas antes, havia sido destituído, devendo deixar o cargo – veja só – no dia da morte do presidente. Com a instabilidade provocada pela morte do mandatário, a troca de ministro acaba não acontecendo. O titular assume o cargo interinamente e vai além: declara estado de sitio no país, o que amplia, quase que ilimitadamente, os seus poderes.

As investigações avançam. Indícios dão conta de que o mandante do crime foi mesmo o primeiro-ministro, motivado por ganância. Mas as evidências apontam ainda um segundo e improvável suspeito: o vizinho do presidente.

Mandado na mão, os policiais entraram na casa do vizinho e encontraram munições, pistolas e advinha mais o quê? Um boné da DEA.

A casa pertence a um médico, que mora nos Estados Unidos, mas que retorna ao país de origem dizendo ser um “enviado por Deus para substituir o presidente”. E não está sozinho.

Há um ex-senador, opositor inveterado do governo. Investigadores apostam que ele teria bons motivos para querer o presidente morto.

Ficou curioso para saber o final da série? Não adianta procurar na Netflix, porque não vai encontrar. Está nas páginas dos jornais. Está acontecendo agora, no Haiti.

O ex-presidente do Haiti, Jovenel Moise, assassinado a tiros em casa. (Reprodução/EBC)
Guilherme Scarpellini

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Tags: crônica

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