Eu nunca me considerei uma pessoa emotiva, especialmente no quesito derramar lágrimas. Por muitos motivos, chorar para mim é uma coisa extraordinária que acontece apenas em momentos, bom, extraordinários. Meus amigos podem até mesmo pensar que sou um pouco insensível, mas acredito que eu tenha a sensibilidade adequada para os momentos adequados.
Nos meus filmes conforto choro exatamente na mesma parte, todas as vezes. Lembro que chorei uma vez vendo jornal, e uma vez no metrô, assistindo ao episódio final de uma série sul-coreana. A questão é: eu choro.
Mas esse sentimento nunca me pega de surpresa. É sempre necessária muita preparação, quase um permitir se emocionar, de forma contida, claro, mas sempre suficiente. Por isso qual não foi a minha surpresa quando durante a abertura dos 32º Jogos Olímpicos, Tóquio 2020, eu simplesmente caí em lágrimas. Eu estava no ônibus indo para o trabalho quando aconteceu. No momento em que percebi o estádio Olímpico de Tóquio, no Japão, completamente vazio com artistas performando para o nada, eu senti. Senti como quem sente ser jogado de um precipício com um peso amarrado ao peito.
Uma atleta corria em uma esteira recebendo a energia positiva de performistas que, à distância, balançavam as mãos tentando fazer com que todo aquele fervor chegasse a todos nós. E eu chorei. Apoiada no banco da frente e com a passageira do lado me olhando estranho. Mas não é como se eu tivesse opção.
Eu vivi e revivi a abertura da Rio 2016. Vi Caetano Veloso, Anitta e Gilberto Gil sambarem no meio do Maracanã, que virou Sambódromo, que virou favela, que virou o coração de todo o país. A delegação brasileira entrou com tanta vontade, tanta garra. O ouro, em todas as modalidades, já era nosso antes de ser. Ninguém ali podia imaginar ficar com a prata ou o bronze. Nós queríamos ser os primeiros e queríamos ser tudo.
Nesta sexta-feira, quatro atletas brasileiros entraram representando o país. A porta-bandeira e o mestre-sala (trazendo para o nosso samba) estavam acanhados. Depois de um 2020 impossível e um 2021 que se mostra igualmente difícil, não sei se 00:04 de samba nos pés de havaianas serão o suficiente para trazer o espírito olímpico de volta para casa.
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