Categories: Guilherme Scarpellini

Até onde vai a loucura?

Divulgação/Netflix

Foi quando eu fatiava uma pizza em seis pedaços que, por ironia das circunstâncias, tivemos a ideia: vamos assistir ao documentário da Elize Matsunaga, na Netflix? Era sábado à noite, e eu e a Dani não tínhamos programa melhor. Mergulhamos na história da mulher que matou o marido com um tiro e depois o despachou em malas.

Mas como fazê-lo caber em malas seria fisicamente possível? Esse é o problema: não seria possível. Mas ela deu o seu jeito. E o resto é história.

É esforço ingrato tentar compreender até onde vai a loucura do ser humano. É o mesmo que pretender resolver um cubo mágico com um cisco no olho e as duas mãos amarradas para trás, depois de virar três doses de uísque. Isto é, nem vale a pena tentar.

Elize falou, falou, falou, exclusivamente, para as câmeras do documentário, mas não explicou. Por que diabos esquartejou o maridou? Silêncio. Ora, sejamos compreensivos com ela. Hannibal Lecter também não saberia explicar o seu gosto peculiar por carne vermelha. Cada louco com a sua loucura.

É o caso também do médico-legista que juntou as peças desse quebra-cabeça macabro à época dos fatos, no IML de São Paulo. Com cabelos longos e brancos — aliás, muito parecido com o personagem de John Carpenter no clássico “Trilogia do Terror” (1993) —, ele olha para a câmera e declara, com propriedade: “a pessoa é mais bonita por dentro do que por fora”.

E não é metáfora.

Como não podia ser diferente, a própria vítima do crime tinha lá a sua parte nessa loucura. Praticante de assassinato em série de animais selvagens — ou, como alguns idiotas preferem: praticante de caça esportiva — o cidadão tinha um arsenal de armas em casa. Inclusive, foi morto com uma pistola que deu de presente à esposa. É sabido que quem vive em vespeiro não pode temer uma picadinha. Pois desse veneno ele experimentou. E de outros mais.

Fato é que, depois de quase quatro horas ininterruptas de documentário, eu não consegui pregar os olhos à noite. E, para piorar, quando abro o jornal na manhã seguinte, sangue verte pelas páginas de pixels do meu iPad. Que tipo de loucura estaria por trás do possível homicídio, seguido de suicídio, que custou a vida de uma mulher e de uma criança no Lourdes, em BH?

Ganha um cubo mágico e um cisco no olho quem souber responder.

Guilherme Scarpellini

Share
Published by
Guilherme Scarpellini

Recent Posts

Fotojornalismo: Filme Guerra Civil

Sandra Belchiolina O terceiro olhar sobre a trilogia que me propus escrever com temática fotógrafos…

24 horas ago

TAEDIUM VITAE

Daniela Piroli Cabraldanielapirolicabral@gmail.com (texto original publicado em 27/05/2020) O cotidiano. Ele já foi inspiração para…

2 dias ago

Futebol fora dos gramados

Eduardo de Ávila Quem me conhece, ou mesmo acompanha minhas manifestações, não se surpreende com…

3 dias ago

Só — Capítulo 7

Victória Farias Capítulo 7 “Isac, você está pronto para o lançamento?” A voz em seu…

4 dias ago

Alegria

Silvia Ribeiro Ei! Sei que tem muito tempo que a gente não se vê, e…

4 dias ago

Sorriso

Mário Sérgio Difícil encontrar empregos naqueles tempos. O assunto em televisão, rádio e jornal, era…

5 dias ago