Daniela Piroli Cabral
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Há um tempo circulou nas redes sociais um vídeo curto em que a Oprah Winfrey entrevistava a Cher e a Tina Turner, ambas sexagenárias, em seu programa de TV. Oprah as arguia sobre o envelhecimento e Cher prontamente responde com um palavrão:
– Uma merda.
A plateia cai na gargalhada, Oprah tenta render a questão, inserindo o tema da sabedoria que vem com o avanço da idade, mas Cher é incisiva na resposta e solta outro palavrão, dessa vez editado como uma “campainha”, que censura o espontâneo desabafo da cantora.
A verdade é que muita coisa mudou desde que estudei “os sexagenários do Brasil” no meu livro de estudos sociais da quarta série. Naquela época eles eram o topo de uma pirâmide de base bem alargada, repleta de juventude. Hoje, os “60 mais” representam cerca de quatorze por cento da população brasileira numa “pirâmide” que tem como base apenas vinte e um por cento de jovens.
Quando minha mãe nasceu, a expectativa de vida era de 57,3 anos. Quando eu nasci, era de 64,8 anos e atualmente, a expectativa de vida de um habitante da região sudeste do Brasil é em torno de 76,9 anos.
Minha mãe vai fazer sessenta e um em julho, ultrapassando o que era previsto para ela no ano em que nasceu. Outro dia, conversando comigo, se queixava dos treinos de musculação:
– Ah, não estou gostando da minha academia. Vê se pode. Só porque eu tenho sessenta, o instrutor não quer me passar peso. Vê se pode. Só porque tenho sessenta ele acha que tem que me preservar, acha que vou me machucar à toa. Vê se pode…
Tenho outros amigos na casa dos sessenta, alguns deles fiz no coral que participo. Um dia, conversando com uma delas, escuto o seguinte:
– Cantar me faz muito bem também, Dani. Gosto de frequentar os ensaios porque a gente realmente aprende, aprimora, é desafiada nas nossas dificuldades. Eu já participei de outros corais e não gostei porque eram “de senhorinhas”.
Inegável que o desenvolvimento de informações e tecnologias na área da saúde, tais como nutrição e atividade física favoreceram muito o incremento quantitativo e qualitativo aos nossos anos de vida. Obviamente, poderia problematizar aqui sobre a negação que a nossa cultura faz da velhice e do passar do tempo, sobre o “culto à juventude”, exposto massivamente nas mídias e redes sociais e, por vezes, reproduzido por nós. Mas isso é assunto para outro texto. Hoje escrevo para contar a conversa surpreendente (para não dizer engraçada) que tive com mamãe:
– Filha, eu mudei de academia.
– É mesmo, mãe?!
– É. Eu precisava de uma academia que abrisse mais cedo. Essa que eu estou agora abre às cinco e meia da manhã. Muito melhor.