Tais Civitarese
Alguns dizem que viver os anos dois mil e vinte e um é um constante pisar em ovos. Cada palavra proferida pode ferir uma outra pessoa. Uma frase mal pensada é passível de processo na justiça. Uma reação automática, considerada crime ou preconceito.
Alguns reclamam que está chato viver. Que não se pode mais falar nada. Excluídos alguns exageros, considero que vivenciamos uma nuance refinada da civilização.
Há pessoas que, de fato, levam seus problemas pessoais para o âmbito público. Que não compreendem bem o que é comunicado se doem por sua própria e errônea interpretação. No entanto, existem atitudes que simplesmente não cabem mais existir. Sobretudo, aquelas permeadas por machismo, homofobia e racismo.
Quando paro para pensar na década que formou o caráter da minha geração, sinto arrepios. Não existiram tempos mais surreais, errados ou discriminatórios do que os anos noventa. As coisas que naquela época eram consideradas “normais” e passavam batido, hoje seriam crimes graves. Gays eram sempre motivo de piada e deboche. Dentre outras alcunhas, consagrou-se publicamente a expressão “loira burra” como jargão popular nacional. E pouquíssimo se via da representatividade negra nas mídias, que não fosse em posições subalternas.
Minha geração cresceu com um padrão de opressão intenso sobre o “diferente” (no caso, diferente do homem cis branco).
Hoje, há um movimento em direção a sermos mais inclusivos e sensíveis no âmbito social. Ainda que estejamos a quilômetros de um pé de igualdade justo, penso que tivemos que atravessar aquela treva para chegarmos mais conscientes até aqui.
O que ainda é inadmissível, contudo, é a perpetuação desse modelo embolorado após tanta reflexão social e esforços das ditas “minorias” por serem vistas.
Piadas machistas me embrulham o estômago. Homofobia é algo tão démodé que cheira a burrice. E o racismo, convenhamos, é de fato um crime imperdoável que, se não estivermos atentos e críticos, reproduzimos.
Por mais velho que se seja, se você ainda está vivo e lúcido, é sua obrigação se adequar ao mundo contemporâneo e atualizar suas concepções de vida em sintonia com o caminhar da humanidade. Não há desculpas, uma vez que todos “aprendemos errado” coisa ou outra quando mais jovens. Reaprenda certo.
Do contrário, você virará um objeto curioso, tal como uma peça de museu, que serve para ser vista, contemplada com curiosidade anedótica e perecer na poeira da estagnação.
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Excelente reflexão, Tais! A leitura desse artigo é necessária!
Parabéns!
Obrigada, Camila! Bjos!!